Folha de S. Paulo


Cidade nas mãos do Estado Islâmico, Palmira é relíquia histórica

A tomada da cidade histórica de Palmira nesta semana pela organização terrorista Estado Islâmico, que já controla metade do território da Síria, devolveu à região o temor em relação ao patrimônio arqueológico desse país.

A reportagem da Folha esteve em Palmira em 2010, um ano antes da insurgência que, somada à brutalidade do regime sírio, empurrou o país para a guerra civil. Na época, embora sem turistas, a cidade era um destino seguro.

Era uma visita para um dia, entre ruínas, templos e um castelo no topo da montanha, além de um oásis e um conjunto de tumbas em forma de torre. Moradores recebiam o visitante em casa e faziam de suas barracas restaurantes.

Conhecida como "Tadmur" em árabe, Palmira é uma das visões monumentais da região. Caminhos flanqueados por colunas e arcos gigantescos dão passagem ao vazio. São cenas que, no deserto, evocam um passado heroico. No entardecer, as pedras se tingem de rosado.

A cidade beneficiou-se da rota da seda e de sua posição estratégica entre Roma e Pártia, dois dos gigantes impérios naqueles séculos. Palmira é conhecida, em especial, pelo episódio em que sua rainha Zenóbia -que se dizia descendente de Cleópatra- desafiou o Império Romano, mo século 3 d.C. Derrotada por Aureliano, ela foi levada a Roma em grilhões, um tema recorrente em esculturas.

A construção mais conhecida da cidade é o chamado "tetrapylon", um monumento de tipo romano utilizado para marcar encruzilhadas, com uma construção cúbica aberta com quatro portões.

Se o Estado Islâmico repetir a estratégia que usou no Iraque, usando a destruição de ruínas como peça de propaganda, provavelmente irá começar por essas colunas.

Não há ainda relato de que a presença do EI tenha danificado as ruínas. Mas o precedente é terrível -a organização recentemente destroçou antiguidades no Iraque.

A preservação de ruínas como Palmira, afinal, é entendida por militantes radicais como idolatria. A referência histórica utilizada por eles é o episódio em que Maomé destruiu, segundo a tradição islâmica, os ídolos de Meca.

FINANCIAMENTO

A exemplo de outras ocasiões, porém, a organização terrorista pode antes avaliar quais peças da cidade venderia no mercado negro para financiar sua estrutura.

A tomada de Palmira não é apenas uma ameaça cultural. A cidade está localizada em uma região de exploração de gás e em posição estratégica entre Damasco e Deir ez-Zor, e poderá tornar-se uma base para ataques contra o Exército sírio.

Também pesa o fato de Palmira ser a primeira cidade síria tomada pelo EI das mãos do regime sírio. Raqqa, atual capital desse autodeclarado califado, foi conquistada de rivais radicais na Síria.

Dias antes, o EI havia tomado Ramadi, no Iraque -o que levantou dúvidas sobre a eficácia dos bombardeios internacionais para contê-lo.


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