Folha de S. Paulo


Alemanha promete R$ 13,5 bilhões anuais em ajuda para salvar o clima

Na tentativa de favorecer um acordo forte sobre mudança do clima, a Alemanha duplicará sua ajuda financeira para países pobres enfrentarem o desafio. De € 2 bilhões, a ajuda alemã ao desenvolvimento passará para € 4 bilhões (R$ 13,5 bilhões) anuais até 2020.

A promessa foi feita pela chanceler Angela Merkel a delegados de 37 países no 6º Diálogo de Petersberg, em Berlim. O encontro anual, patrocinado por ela desde 2010, terminou nesta terça (19).

Na sua sexta edição, todos estiveram de olho na conferência do clima que ocorrerá em Paris em dezembro. Alemanha e França trabalham para evitar um fracasso como o de 2009 em Copenhague.

A duplicação de recursos se encaixa nesse esforço. Custo e financiamento da meta de limitar o aquecimento a menos de 2°C sempre foram obstáculo a tratados ambiciosos e a principal diferença a opor países desenvolvidos e em desenvolvimento.

A ministra alemã do Ambiente, Barbara Hendricks, afirmou que esses € 2 bilhões deverão alavancar outros € 6 bilhões do setor privado, elevando a contribuição germânica para algo significativo diante da promessa dos países ricos de destinar US$ 100 bilhões (R$ 340 bilhões) anuais até 2020 –ainda longe de ser realizada.

Essa é uma das principais reivindicações de países como China e Índia: clareza sobre como e quando os desenvolvidos farão desembolsos e cumprirão o compromisso.

O gesto alemão pode ser interpretado como pressão sobre outros membros do G7 –EUA à frente– para que apresentem metas ambiciosas. O grupo se reúne em junho.

BRASIL

Até outubro, todos os 196 países nas negociações sobre clima têm de apresentar promessas de redução de emissões de gases do efeito estufa, como o CO². São as chamadas INDCs ("contribuições pretendidas nacionalmente determinadas", termo-chave no jargão do clima).

Quase 40 países já fizeram a promessa, assim como a União Europeia (corte de 40%, sobre os níveis de 1990, até 2030). A China deve anunciar a sua em junho. Não se sabe quando sai a do Brasil.

A ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, foi vaga a respeito em Berlim.

Afirmou que é preciso consolidar números e ouvir atores dentro e fora do governo. Teixeira indicou apenas que será depois de junho e que setembro seria "exagerado". A INDC brasileira incluirá algum compromisso com "desmatamento líquido zero".

Isso implica admitir apenas a supressão legal de vegetação (20% das propriedades, na Amazônia). A perda teria então de ser compensada com áreas em regeneração natural ou recuperação (por exemplo em áreas de preservação permanente, que cada proprietário precisa replantar com espécies nativas).

"Na discussão sobre desmatamento líquido zero, temos quatro cenários possíveis em debate. E não é só dentro do governo", disse a ministra. Não se comprometeu com datas para alcançar esse objetivo: "Alguns sinalizam 2030, outros 2040".

Sobre a taxa anual de desmatamento na Amazônia para este ano, Teixeira tem esperança de uma nova diminuição. "No ano passado todo mundo disse que ia aumentar, e reduziu em 1.000 km². Não está sinalizando aumento, mas também não está sinalizando redução."

Em 2014 a taxa foi de 4.848 km², a segunda menor registrada. Um ano antes, fora de 5.891 km². "Vamos chegar a 3.925 km² [meta oficial do país], esperamos que antes de 2020", disse a ministra.

"Qual é o patamar a que se chega para ter o desmatamento ilegal zero? E que reposição se terá de trabalhar para obter o líquido?"

Segundo Teixeira, há especialistas que defendem um piso de 2.000 km² por ano. "Eu levei um susto –metade do que a gente tem hoje, em 2020. Isso se sustenta, como procedimento [compromisso] legal? Todo ano recuperar 2.000 km², para dar o zero?"

O jornalista MARCELO LEITE viajou a Berlim a convite do Ministério das Relações Exteriores da Alemanha


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