Folha de S. Paulo


Informação sobre execução de norte-coreano põe espiões de Seul em xeque

A afirmação da agência de inteligência sul-coreana de que a Coreia do Norte removeu seu chefe do governo de defesa e o executou usando artilharia antiaérea é uma das mais fracas alegações da história e tornou a agência alvo de forte questionamento.

O Serviço Nacional de Inteligência da Coreia do Sul (NIS) tem uma tarefa extremamente difícil —observar seu arqui-inimigo norte-coreano, um dos regimes mais fechados e hostis do mundo, e tentar descobrir que acontece nos corredores do poder.

KCNA/AFP
O ministro da Defesa norte-coreano Hyon Yong-chol, em foto sem data; ele foi executado, segundo mídia sul-coreana
O ministro da Defesa norte-coreano Hyon Yong-chol, em foto sem data; ele foi executado, segundo mídia sul-coreana

A agência revelou corretamente em 2013 que Jang Song-thaek, tio do ditador Kim Jong-un e segundo homem mais poderoso no país comunista, havia sido banido do governo. Dentre suas faltas, está não ter descoberto a morte do líder Kim Jong-il, em 2011.

O ceticismo sobre a afirmação vem da certeza evidente para o NIS de que Hyon Yong-chol foi retirado do posto de chefe de Defesa, embora não tenha revelado nenhuma prova, enquanto disse com menor certeza que ele havia sido executado.

O órgão afirma que têm informações sobre a execução, mas pondera que não houve nenhum comunicado de Pyongyang e que imagens de arquivo incluindo Hyon continuam a aparecer na televisão estatal do país comunista.

No entanto, o mesmo raciocínio parece minar a confiança da informação sobre a saída de Hyon, já que todos os que deixam o regime norte-coreano tendem a desaparecer da mídia local, mesmo que não seja necessariamente de forma imediata.

Hyon, que tipicamente aparecia em eventos públicos ao lado de Kim Jong-un, esteve ausente de qualquer menção da imprensa oficial norte-coreana desde 29 de abril, na época em que ele teria sido executado, segundo o NIS.

"O NIS faz uma aposta grande e arriscada", disse o monitor de Coreia do Norte do Instituto Sejong, Cheong Seong-chang. "Se isso se revela falso, será um grande constrangimento que colocará em xeque sua habilidade de coletar informações."

Nesta semana, a secreta agência tomou a rara decisão de divulgar 11 páginas de documentos a um grupo de jornalistas para dar respaldo às suas afirmações, embora não tenha revelado suas fontes.

"São provas razoáveis a respeito da execução. Embora não haja vídeos nem fotos, o NIS é confiável, mas o sentimento público piorou e parece que eles estão sendo menos audaciosos", disse o deputado opositor Kim Kwang-jin.

CÓDIGOS

A Coreia do Norte, fortemente sancionada pela ONU por testes nucleares e por estar tecnicamente em estado de guerra com a Coreia do Sul, é ainda o Estado mais recluso do mundo, forçando os espiões de Seul a se basear em fontes humanas.

Transmissões ocasionais de rádio à meia-noite vindas da Coreia do Sul e ouvidas do outro lado da fronteira, tática usada durante a Guerra Fria, são o sinal de que Seul possui agentes do lado comunista.

Recentemente, a Coreia do Norte disse ter prendido dois sul-coreanos acusados de espionagem para o NIS na cidade chinesa de Dandong, na fronteira com o país comunista. A agência nega que os detidos sejam espiões.

Mas vários observadores dizem que o órgão teria pouco a ganhar com uma afirmação tão forte como a execução do chefe da defesa norte-coreana se ela não fosse razoavelmente confiável.

"Quando a agência leva primeiro o tema ao Parlamento e divulga informações sobre a Coreia do Norte, eles devem ter checado diversas vezes usando todos os métodos possíveis, como inteligência humana e técnica", disse o ex-agente da NIS e ex-cônsul sul-coreano em Hong Kong Jun Ok-hyun.

"Mas, devido à natureza da Coreia do Norte como um Estado fechado e pouco acessível à informação pública, os agentes de inteligência inevitavelmente têm de lidar com polêmicas após divulgar informações."


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