Folha de S. Paulo


Boca de urna indica vitória de conservadores em eleições britânicas

O resultado será conhecido só nesta sexta (8), mas as pesquisas na noite de quinta (7), após a eleição britânica, apontam o Partido Conservador em primeiro lugar e sem maioria para reeleger sozinho o premiê David Cameron.

A expectativa é que Cameron use a vantagem para declarar vitória e, caso não atinja mesmo a maioria, comece a negociar uma aliança que garanta sua permanência em Downing Street (sede do governo), inibindo a reação dos adversários trabalhistas.

Pesquisa de boca de urna feita com 22 mil eleitores em 133 distritos e divulgada após a votação pelos canais BBC, ITV e Sky News indica que os conservadores teriam 316 cadeiras no Parlamento, só dez a menos que a maioria necessária para reeleger Cameron.

A sondagem, do instituto Ipsos-Mori, põe o Partido Trabalhista, liderado por Ed Miliband, com 239 cadeiras.

O resultado surpreendeu a mídia britânica, porque contradisse as projeções até o dia da eleição, as quais apontavam que os dois partidos tradicionais estariam numa disputa entre 260 a 280 cadeiras para cada lado.

Os jornais "The Independent" e "The Times" descreveram como "choque" a reação à boca de urna. "É justo dizer que ninguém estava esperando isso", escreveu o editor de opinião do "The Guardian", Jonathan Freedland.

A falta de maioria para um partido é chamada de "Parlamento enforcado" entre os britânicos. A situação ocorreu em 2010, quando conservadores formaram coalizão com liberais democratas.

O Liberal Democrata, que deve sofrer duro golpe nas urnas, deve ser procurado novamente para dar maioria ao Partido Conservador. Outra legenda que pode ajudar a selar a vitória de Cameron é o Ukip, de extrema-direita.

A campanha, uma das mais disputadas em décadas, foi marcada por debates sobre a austeridade fiscal do governo conservador, a livre imigração dentro da União Europeia e seu impacto no Reino Unido e o sistema de saúde público, o NHS.

Com a confirmação de que nenhum partido atingiu sozinho a maioria de 326 necessária –o que era esperado para esta sexta– aguarda-se um desfecho até 18 de maio, quando o Parlamento eleito terá sua primeira reunião.

Se isso não ocorrer, o limite passa a ser 27 de maio, data em que a rainha Elizabeth 2ª faz seu tradicional discurso sobre o programa legislativo do novo governo.

O instituto YouGov divulgou nova pesquisa após a votação, mas não se tratava de boca de urna, e sim de uma recontagem com entrevistados do dia anterior.

Esses números apontavam 284 cadeiras para os conservadores e 263 para os trabalhistas, uma margem menor.

Apesar da expectativa de que os conservadores fiquem em primeiro, a regra não impede que o segundo colocado tente formar maioria.

No caso, dependendo do resultado, os trabalhistas poderiam se unir ao SNP (Partido Nacional da Escócia) para impedir a reeleição de Cameron e eleger Miliband premiê. A manobra, porém, será mais difícil caso a margem dos conservadores se confirme.

VOTO NO PUB

Seguindo a tradição de um bom pub inglês, o "The Windsor Castle Pub", em Londres, vende cervejas variadas, mas nesta quinta (7) ofereceu um serviço a mais: urnas.

Um dos ambientes virou zona eleitoral para receber os votos do distrito de Carshalton e Wallington.

Dez cabines funcionaram no pub, com quatro mesários. Enquanto os eleitores votavam, o pub funcionava nos outros ambientes -afinal, não é feriado nem há lei seca no dia de votação.

"É uma ótima propaganda para nós, porque, além de o nome do pub ser enviado aos eleitores na carta que informa o local da eleição, alguns acabam tomando uma cerveja depois", diz o gerente do pub, Dan Greenway.

Daniel Morgan, 35, votou e não perdeu a chance de tomar um "pint" (tradicional copo de cerveja inglesa). Qual a sensação de votar num pub? "É muito estranha, mas muito britânica", respondeu, sem revelar o voto.


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