Folha de S. Paulo


Procuradora acusa de homicídio agentes que prenderam negro nos EUA

A procuradora do Estado de Maryland em Baltimore (EUA), Marilyn Mosby, anunciou nesta sexta-feira (1º) que acusará de homicídio os seis policiais envolvidos na ação que levou à morte do jovem negro Freddie Gray, 25, em 12 de abril. Cinco deles foram colocados em prisão preventiva.

Gray morreu sete dias depois, por complicações decorrentes de uma fratura na coluna cervical ocorrida quando ele estava sob custódia da polícia. Ele foi preso com um canivete, em uma abordagem policial violenta registrada em vídeo.

Adrees Latif/Reuters
A procuradora em Baltimore, Marilyn Mosby, ao anunciar a acusação e os pedidos de prisão
A procuradora em Baltimore, Marilyn Mosby, ao anunciar a acusação e os pedidos de prisão

Na visão de Mosby, os policiais abusaram de seu poder na prisão porque não há proibição para a arma branca que Gray carregava e ele não ameaçava ninguém no momento da prisão, não havendo motivos para que fosse detido.

A procuradora considerou que os agentes violaram o procedimento policial ao algemar as mãos e os pés da vítima e transportá-la em uma van sem cinto de segurança, além de não darem atendimento médico ao preso ferido.

O policial Caesar Goodson Jr., que dirigia a van que transportava Gray, foi acusado de homicídio doloso, homicídio culposo, lesão corporal e abuso de autoridade.

Brian Rice deverá responder por homicídio culposo, lesão corporal, abuso de autoridade e prisão ilegal. William Porter e Alicia White foram acusados de homicídio culposo, lesão corporal e prisão ilegal, enquanto Edward Nero e Garrett Miller deverão responder por lesão corporal, abuso de autoridade e prisão ilegal.

Luciano Veronezi/Editoria de arte/ Folhatress

Assim que foram anunciadas as acusações no prédio do Memorial de Guerra da cidade, houve comemoração dos moradores no local e em bairros de maioria negra, como Sandtown-Winchester, onde Gray foi abordado pela polícia.

Cerca de duas horas depois, a prefeita de Baltimore, Stephanie Rawlings-Blake, disse que cinco dos seis policiais foram presos. Ela ordenou que eles sejam suspensos de seus postos. Rawlings-Blake também prometeu que haverá justiça para Gray.

PROTESTOS

A morte provocou comoção na cidade, do Estado de Maryland, e uma onda de protestos que começou na semana passada e teve seu dia mais violento na segunda (27), dia em que Gray foi enterrado, com 200 presos e 15 policiais feridos.

Inicialmente, um grupo de manifestantes jovens atirou pedras, paus e tijolos contra a polícia, que respondeu com bombas de gás lacrimogêneo. Um conjunto de lojas foi incendiado, enquanto outros estabelecimentos foram saqueados.

Diante do descontrole da situação, a prefeitura da cidade decretou toque de recolher e o governo de Maryland determinou o estado de emergência, permitindo que a Guarda Nacional fosse chamada para auxiliar na segurança.

Os confrontos se repetiram, com menor intensidade, na terça (28), em Baltimore, enquanto outras cidades do país, como Nova York, Washington e Boston, tiveram manifestações pacíficas na quarta (29).

Na quinta (30), a polícia de Baltimore completou sua investigação sobre a ação que levou à morte do jovem, revelando que os policiais fizeram uma quarta parada, até então desconhecida. O documento foi a base para a acusação da procuradora nesta sexta.

TENSÃO RACIAL

O caso de Freddie Gray soma-se a outras mortes de negros provocadas por policiais em sua maioria brancos, que causaram comoção e elevaram a tensão racial em 2014 nos Estados Unidos.

Em julho, o camelô de cigarros contrabandeados Eric Garner, 43, foi morto por um policial no Brooklyn, em Nova York, que lhe deu uma gravata em uma abordagem. Um júri decidiu em novembro não indiciar o agente responsável, David Pantaleo.

Mesmo destino teve o policial Darren Wilson, que matou a tiros o jovem Michael Brown, 18, em Ferguson, no Missouri, no mês de agosto. Os protestos da cidade foram violentos e terminaram com saques e confrontos com a polícia.

Na época em que os dois policiais dos casos Ferguson e Brooklyn tiveram as acusações retiradas, os policiais de Cleveland, em Ohio, mataram Tamir Rice, 12, que brincava em um parque da cidade com uma arma de brinquedo.


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