Folha de S. Paulo


Resgates no Nepal têm sido feitos de forma improvisada

Dois longos bambus emendados com arame e corda eram as principais ferramentas de um grupo de resgate do Exército do Nepal. Eles tentavam derrubar parte de um prédio condenado em Bhaktapur, um dos locais mais devastados pelo terremoto do último sábado (25), que deixou ao menos 6.000 mortos.

O improviso dos militares retrata o despreparo do país para lidar com a grave crise humanitária, o que aumenta o drama das vítimas.

No labirinto de casas da medieval Bhaktapur, soldados trabalhavam em um clarão de escombros do terremoto, num esforço para encontrar dois corpos soterrados.

Até a escada usada para entrar nos prédios foi improvisada com pedaços de pau recolhidos das ruínas.

"Não temos experiência nem equipamentos adequados. É uma missão quase impossível", disse o capitão Dhakal, que comanda 60 soldados nepaleses.

Sentado em um montanha de detritos, um homem que conhecia as pessoas soterradas chorava baixinho nos braços de um amigo.

Capital do Nepal no século 15, Bhaktapur é uma impressionante joia arquitetônica, com dezenas de templos e monumentos históricos que fazem a cidade de 80 mil habitantes um verdadeiro museu a céu aberto.

Depois do terremoto, ela parece um cenário de guerra.

Desolados, os moradores da cidade não escondem a frustração com a ausência do governo na assistência básica às vítimas do tremor.

Falta tudo: tendas para os desabrigados, medicamentos para os doentes e feridos e, acima de tudo, água e alimentos para todos.

Em várias partes da cidade foram colados cartazes escritos à mão com pedidos de ajuda em inglês.

"Não podemos contar com o nosso governo. A esperança é a ajuda internacional", diz o bancário Bishor Palikel, 40, que perdeu a casa e está acampado com outros 12 parentes em um templo budista. "Lemos nos jornais que está chegando ajuda de fora, mas não vimos sinal dela."

MIGALHAS

Muitos perderam tudo e dependiam das migalhas recolhidas nas ruínas, literalmente. Era o caso do agricultor Dhanbahadur Dumaro, 61, que escalou os escombros do que era a sua casa e catava os grãos de arroz espalhados entre os destroços.

"A comida que tinha só dura até hoje. Não recebemos nada do governo nem de ninguém. O que posso fazer? Qualquer migalha é valiosa", afirmou Dumaro, separando os grãos de fezes de uma cabra magrela que zanzava pelo terreno.

Não muito longe dali, a marcha decidida de um grupo de soldados israelenses por entre as ruínas mostrava um contraste gritante com o despreparo dos nepaleses.

Com a ajuda de cães farejadores e equipados com o que há de mais moderno para esse tipo de busca, os militares israelenses foram recebidos como heróis pela multidão que cercava uma casa totalmente destruída.

"Nos disseram que há várias pessoas soterradas, temos que agir rápido", disse um oficial que se identificou como Dani.

Com 260 integrantes, a missão de emergência de Israel é a maior enviada ao Nepal, seguida de longe pela britânica, que tem 68 pessoas.

Além de fazer as buscas por sobreviventes, os israelenses montaram um sofisticado hospital de campanha, com 60 camas.


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