Folha de S. Paulo


Naufrágio no Mediterrâneo deixou 800 imigrantes mortos, diz ONU

O naufrágio de uma embarcação com imigrantes ocorrido no domingo no mar Mediterrâneo deixou ao menos 800 mortos, anunciaram na madrugada desta terça-feira (21), na cidade siciliana de Catânia, os representantes do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur) e da Organização Internacional para as Migrações (OIM), com base nos relatos de sobreviventes.

"Podemos dizer que 800 pessoas morreram", declarou Carlotta Sami, porta-voz da Acnur na Itália, antes de o porta-voz da OIM, Flavio di Giacomo, confirmar a estimativa.

Os representantes das duas organizações entrevistaram a maior parte dos 27 sobreviventes que chegaram na segunda-feira ao porto de Catânia.

"Nós confrontamos os testemunhos e concluímos que havia pouco mais de 800 pessoas a bordo, incluindo crianças de 10, 12 anos. Havia sírios, cerca de 150 eritreus, somalis (...). Eles partiram às 8h de sábado de Trípoli", explicou Sami.

"Os sobreviventes são de Mali, Gâmbia, Senegal, Somália, Eritreia e Bangladesh", revelou Di Giacomo.

O grupo de 27 sobreviventes chegou na noite de segunda-feira ao porto de Catânia, no sul da Itália, e foi recebido pelo ministro italiano dos Transportes, Graziano Delrio, antes de passar por uma primeira inspeção sanitária em tendas instaladas no porto, e ser levado de ônibus a um centro de atendimento de emergência.

Durante o processo, dois sobreviventes foram detidos pela polícia italiana por integrarem a tripulação do barco naufragado no domingo diante da costa Líbia.

Os detidos seriam o capitão do barco, de origem tunisiana, e um membro da tripulação, de nacionalidade síria, segundo o oficial da polícia Rocco Liguori.

Em Catânia já está hospitalizado outro sobrevivente, cujo estado de saúde obrigou sua transferência de urgência no domingo.

Algumas dezenas de defensores dos direitos dos imigrantes protestaram durante a chegada dos sobreviventes para reivindicar a abolição de uma lei que criminaliza a imigração ilegal. "Emigrar não é um crime, a história da Sicília nos mostrou", gritaram.

O Alto Comissário da ONU para os Direitos Humanos, Zeid Ra'ad Al Husein, criticou duramente as políticas migratórias "cínicas" adotadas na segunda-feira pela União Europeia, acusando Bruxelas de transformar o Mediterrâneo em um "grande cemitério".

"A Europa dá as costas a alguns dos emigrantes mais vulneráveis do mundo e corre o risco de transformar o Mediterrâneo em um vasto cemitério", declarou Zeid em um comunicado.

Para Zeid Ra'ad Al Husein, os europeus deveriam reconhecer que precisam de mão de obra pouco qualificada e admitir que os refugiados têm o direito de receber proteção.

Zeid exortou os governos dos países da UE a adotarem "um enfoque mais corajoso e menos cínico", acusando-os de ceder aos movimentos populistas xenófobos em ascensão no bloco.

O funcionário criticou a falta de vias legais implantadas para os emigrantes e demandantes de asilo.

"Estou horrorizado, mas não surpreso com a tragédia", assegurou Zeid.

"Estes mortos e as centenas que os precederam nos últimos meses eram previsíveis", acrescentou, destacando que as mortes eram o resultado de um fracasso da governança e de uma "imensa falta de compaixão".

Na tarde de segunda-feira, a União Europeia convocou uma reunião de emergência dos ministros do Interior e das Relações Exteriores europeus, e revelou um plano de ação com 10 medidas para fazer frente às tragédias no Mediterrâneo.

O plano propõe a ampliação das operações de controle e resgate, mas se concentra na apreensão e destruição de embarcações utilizadas ​​para transportar os migrantes, no reforço da cooperação entre as organizações europeias e um programa para deportação rápida dos candidatos à imigração não autorizados a permanecer na UE.

O presidente da Federação Internacional da Cruz Vermelha, Elhadj As Sy, criticou a posição da UE ao lançar um apelo para "por um fim à indiferença que transforma o Mediterrâneo em um grande cemitério".

Editoria de arte/Folhapress

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