Folha de S. Paulo


Populismo latino-americano incita o ódio, afirma ativista guatemalteca

Neta e filha de cubanos exilados da ilha pelo regime castrista, a jovem Gloria Álvarez, 30, vem entoando um discurso contra o populismo em diferentes países da América Latina. Na semana passada, ela esteve no Brasil.

Membro do Movimento Cívico Nacional da Guatemala, Gloria ficou conhecida após um de seus discursos parar na internet, com mais de 1 milhão de visualizações. Nele, ela afirma que os políticos populistas gostam tanto dos pobres que os multiplicam para se manter no poder.

Reprodução/Facebook
Glória Alvarez participou de seminário na Fundação iFHC, em São Paulo, no último dia 9
Glória Alvarez participou de seminário na Fundação iFHC, em São Paulo, no último dia 9

A seguir, alguns pontos da entrevista.

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Populismo
O populismo a que nos referimos no Movimento Cívico Nacional é um destruidor dos princípios da república que surgiu depois da queda do Muro de Berlim. Sem o apoio logístico e financeiro da União Soviética, a esquerda socialista latino-americana se viu impossibilitada de continuar lutando por poder político por meio da força. Diante dessa encruzilhada, esses grupos se organizaram no Foro de São Paulo. Ali se esquematizou uma agenda que, 20 anos depois, estamos vendo ser imposta, em maior ou menor medida, nos países que adotaram essa forma de governo.

Fracasso da direita
A direita tradicional latino-americana também se reorganizou. Nos anos 90, governantes viajaram a Washington para organizar um novo modelo econômico que permitiria o triunfo do capitalismo. Eles se comprometeram em liberalizar as economias, permitir a competitividade e abrir seus mercados. Mas não liberalizaram nada. O que fizeram foi vender as empresas estatais a amigos. Eles se enriqueceram privatizando e enriqueceram seus companheiros. Não houve livre mercado e competição; houve monopólios privados. No imaginário das pessoas, o capitalismo fracassou. Mas ninguém se deu conta de que nunca foi implementado. Essa foi a bandeira de Hugo Chávez: o fracasso do capitalismo exigia que o povo chegasse ao poder. E, mais uma vez, uma região acostumada a caudilhos e ditadores se deixou seduzir por um discurso populista que incita o ódio na sociedade. Hoje, a direita fracassada e corrupta também usa mecanismos populistas em sua campanha.

Populismo no Brasil
Programas sociais, como o Bolsa Família, estão despertando insatisfação entre muitas pessoas, que estão se dando conta de que, em vez de eliminar a pobreza, agregam mais pessoas a esse grupo. A corrupção na Petrobras está despertando a ira de eleitores que se sentem enganados. O Brasil sofre as consequências de um discurso populista que dividiu a população.

Tecnologia antipopulismo
Quando se percebe que os governos não estão interessados em educar as pessoas, então chegou o momento de nos informarmos por nossa conta. A tecnologia é uma ferramenta que os líderes do passado não tinham e nunca esteve tão a serviço do empoderamento do indivíduo. Na Guatemala, smartphones estão chegando a lugares onde não há sequer água potável.

Oferta e demanda na política
Neste ano haverá eleições na Guatemala, e houve especulações de que eu tentaria um cargo político, mas não estou me lançando a nada. Principalmente porque a política na Guatemala está muito suja, corrupta. Acredito que tenho mais chance de fazer alguma coisa despertando a consciência das pessoas. É um tanto utópico pensar que uma pessoa sozinha na política poderá mudar as coisas. A política obedece à lei da oferta e da demanda. Os políticos são a oferta e, se a demanda não exigir uma melhor qualidade, então os políticos continuarão sendo medíocres.

Cuba
Meus avós fugiram de Cuba em 1959, e meu avô ajudou muitos cubanos a deixarem a ilha. Minha tia-avó, Celia Torriente, aderiu ao castrismo. Ela se suicidou em 1994, quando se deu conta de que o regime que apoiava não se transformou no que prometera. Meu pai também é cubano, foi para a Guatemala quando tinha 13 anos e, como todo cubano, se interessa por política, mas é administrador de empresas. Tudo não vai mudar de imediato, os regimes comunistas vão se abrandando à medida que seu líder sucumbe.


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