Folha de S. Paulo


Turquia reage após papa dizer que morte de armênios foi 'genocídio'

Em sua fala durante missa na basílica de São Pedro, neste domingo (12), o papa Francisco classificou como "genocídio" o massacre de armênios pelo Império Turco-Otomano, há um século.

A definição do papa causou indignação no governo da Turquia, que, além de chamar seu embaixador na Santa Sé, convocou o representante do Vaticano no país para dar explicações.

Francisco utilizou o termo quando se referia a três grandes massacres do século 20.

"No século passado, nossa humanidade viveu três grandes tragédias sem precedentes. A primeira, vista geralmente como o primeiro genocídio do século, golpeou o vosso povo armênio", afirmou o papa na celebração, acompanhada pelo presidente da Armênia, Serj Sargsyan.

No discurso, Francisco estava referendando o que o papa João Paulo 2º e o patriarca da Igreja Apostólica Armênia, Karekin 2º, já haviam definido em um documento assinado por eles em 2001.

Após várias ligações telefônicas, a Chancelaria turca convocou o núncio papal em Ancara, Antonio Lucibello, para expressar seu mal-estar e entregar-lhe uma nota oficial de protesto.

"Usar o termo genocídio (...) gera desilusão e tristeza no governo turco e abre o caminho para a perda de confiança", afirma a nota.

Giorgio Onorati/Efe
O papa Francisco e o líder da Igreja Apostólica Armênia, Aram 1º, na missa na basílica de São Pedro
O papa Francisco e o líder da Igreja Apostólica Armênia, Aram 1º, na missa na basílica de São Pedro

ALIADO

O posicionamento do papa irritou um importante aliado na luta contra facções islâmicas radicais que têm atacado comunidades cristãs no Oriente Médio.

O premiê turco, Ahmet Davutoglu, disse que a afirmação é "inapropriada e parcial" e está "distante da realidade histórica e legal".

A Turquia reconhece que centenas de milhares de armênios foram mortos ou morreram ao serem expulsos do território do país. Mas nega que isso tenha sido um genocídio explícito, dizendo que as mortes aconteceram no contexto da 1ª Guerra Mundial, quando os armênios se rebelaram contra os governantes otomanos e apoiaram tropas russas invasoras.

MEMÓRIA

O discurso do pontífice ocorreu durante uma missa em memória aos armênio mortos naquele período, os últimos anos do Império Turco-Otomano.

Francisco celebrou a liturgia ao lado de Nerses Bedros 19, patriarca da Igreja Católica Armênia.

"Recordamos o centenário desse trágico acontecimento, esse imenso e insensato massacre, cuja crueldade vossos antepassados tiveram de suportar", afirmou o papa.

Os armênios estimam que cerca de 1,5 milhão de pessoas morreram entre 1915 e 1917.

O Uruguai, em 1965, foi o primeiro país do mundo a reconhecer como genocídio o massacre realizado contra o povo armênio.

Editoria de Arte/Folhapress
GUERRA DE PALAVRASTurquia e Armênia divergem sobre se morte de mais de 1 milhão de armênios deve ser chamada de “genocídio”

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