Folha de S. Paulo


Em encontro histórico, Obama e Raúl marcam mudança entre EUA e Cuba

Em um gesto histórico durante a Cúpula das Américas, o presidente dos EUA, Barack Obama, e o ditador de Cuba, Raúl Castro, realizaram neste sábado (11) o primeiro encontro entre líderes dos dois países em mais de meio século.

Na reunião de quase uma hora em uma sala de um centro de convenções na Cidade do Panamá, os dois se sentaram lado a lado em uma tentativa de injetar novo impulso ao esforço anunciado em dezembro de restaurar as relações diplomáticas.

No encontro, porém, não foram anunciados a retirada de Cuba da lista dos países que apoiam o terrorismo pelos EUA nem o fim do embargo, imposto à ilha em 1962.

Classificando o encontro de "histórico", o presidente norte-americano afirmou que atualmente ambas as nações encontram-se "numa posição que permite enveredar num caminho em direção ao futuro e deixar para trás as circunstâncias do passado que fizeram com que fosse tão difícil o diálogo entre os dois países".

Sorridente, o cubano declarou que Cuba "quer discutir tudo, mas precisamos ser pacientes, muito pacientes".

Em declarações após a reunião, Obama disse que os EUA "sabem das dificuldades que o povo de Cuba atravessou nessas últimas décadas". "A essência de minha política é fazer o que eu puder para me certificar de que os cubanos possam prosperar e viver em liberdade e segurança."

O ditador de Cuba acrescentou que há muitos pontos em comum entre as preocupações de ambos os países. "Em algumas coisas vamos concordar, em outras vamos discordar, mas o que o presidente Obama diz é praticamente o mesmo que nós sentimos sobre vários pontos, incluindo direitos humanos e liberdade de expressão."

Com relação ao restabelecimento das relações, Raúl disse que a reabertura das missões diplomáticas é uma prioridade. "Devemos abrir nossas embaixadas, devemos visitar um ao outro", afirmou.

Em seu discurso prévio perante a bancada de presidentes, Raúl enumerou a lista de "agressões imperialistas" dos EUA à América Latina. No princípio de sua fala, avisou que faria uma intervenção longa. "Como não estive nas cúpulas anteriores, tenho um crédito de tempo, não?", disse, sorridente, arrancando risadas e aplausos do público.

Apesar da longa divagação histórica sobre pontos conflituosos da relação com os EUA, Raúl disse que Obama era um homem "honesto". "Dez presidentes dos EUA têm dívidas com Cuba, mas não o presidente Obama."

O público reagiu à fala de Raúl com aplausos e risadas, e o ditador inflamou-se ao comentar a revolução socialista e a resistência do povo cubano à pressão externa. Seu rosto mostrava-se corado quando se exaltava, inclusive batendo na mesa para reforçar alguns pontos.

"Existem discrepâncias substanciais, sim, mas também pontos em comum nos quais podemos cooperar para que seja possível viver neste mundo cheio de ameaças à paz e à sobrevivência humana", disse Raúl.

Entre os pontos de colaboração que considerava importantes, elencou os desafios das mudanças climáticas, o terrorismo, o narcotráfico, a fome e as doenças.

Já Obama, que falou antes do cubano, pediu um diálogo mais pragmático, menos baseado em ideologias e disputas históricas. "A Guerra Fria acabou há muito tempo. E eu não estou interessado em travar batalhas que, francamente, começaram muito antes de eu nascer."


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