Folha de S. Paulo


Ação brasileira em Gaza acabou em 1967 em meio a caos

"Soldado expedicionário brasileiro, você foi escolhido para tomar parte em acontecimentos da maior importância na história do mundo atual."

Assim informava a Caderneta do Expedicionário, preparada pelo Ministério da Guerra e entregue a tropas brasileiras que embarcavam para o Oriente Médio como parte da Primeira Força de Emergência da ONU, criada após a crise de Suez, em 1956.

Numa missão que envolveu mais de 6.000 militares brasileiros, 20 contingentes se revezaram no Batalhão Suez, patrulhando as linhas que dividiam Israel de Gaza e do Egito.

Theodoro da Silva, 74, de Ponta Grossa (PR), serviu por um ano, em 1962, próximo de Khan Younis. Segundo ele, rondas noturnas eram feitas a pé e às vezes nem sequer era permitido conversar.

"O Campo Brasil era o quartel-general, para onde íamos antes e depois das rotações, às vezes aos sábados." A cantina era boa e havia área de lazer, afirma.

GUERRA DOS SEIS DIAS

Com a escalada de tensão, as tropas canadenses que administravam o campo partiram por imposição do Egito, e a missão da ONU foi encerrada.

A guarda ficou a cargo dos brasileiros, que reforçaram patrulhas devido à ocorrência de saques, num clima de guerra iminente.

Na manhã de 5 de junho de 1967, o cabo Fernando Vargas, que deixara Porto Alegre meses antes, se preparava para encerrar um turno e iniciar sua folga.

Por volta das 8h, recorda-se, caças israelenses atravessaram os céus voando baixo, em direção ao Cairo. Era o início da Guerra dos Seis Dias, com a Força Aérea egípcia destruída, quase toda no chão, logo nas primeiras horas.

Posições egípcias próximas ao forte começaram a ser atingidas uma hora depois. Não havia preocupação de preservar tropas restantes da ONU –Israel ignorava que elas ainda continuavam ali. "Pulei numa trincheira para três pessoas e já havia cinco dentro", relembra Vargas.

Os brasileiros se abrigaram em alojamentos que também foram alvejados por blindados israelenses. Um dos soldados foi contido pelos colegas após empunhar um fuzil com a intenção de revidar.

"Os israelenses entraram atirando, e alguns de nós saíram, empunhando uma bandeira do Brasil. Fomos detidos como prisioneiros por 36 horas."

No Campo Brasil, a situação era também caótica em meio a intensos combates, com tiros vindos de todas as direções.

No final da manhã, o capelão do 20º Contingente, João Pheeney, percorria trincheiras abençoando as tropas presentes.

No início da tarde, com o Exército israelense tomando posições ao lado, o cabo gaúcho Carlos Adalberto Macedo foi morto tentando se proteger do tiroteio. Foi sepultado provisoriamente na biblioteca do campo.

Em 9 de junho de 1967, arriadas as bandeiras brasileira e da ONU, o 20º Contingente iniciou a retirada, encerrando a participação brasileira na missão.


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