Folha de S. Paulo


Porta trancada em cabine é efeito do 11 de Setembro

Um conceito desenvolvido no pós-11 de Setembro para impedir acesso de sequestradores à cabine de comando permite que um ou dois pilotos se mantenham trancados no cockpit, sem que ninguém na cabine de passageiros consiga entrar —nem mesmo outro tripulante.

O padrão é que a porta fique sempre trancada por dentro. Se, por exemplo, um dos pilotos sai para ir ao banheiro, ele avisa por interfone que está retornando. O colega na cabine de comando, então, destrava a porta. Há também um olho mágico e, em alguns modelos de avião, câmeras.

Há o risco de o piloto que permaneceu na cabine passe mal durante a ausência do colega, o que pode colocar a aeronave em perigo.

Neste caso, o piloto do lado de fora digita um código que permite que ela se abra após um período determinado de tempo, em torno de 30 segundos.

Uma buzina soa na cabine, para alertar quem está na cabine de que o código foi digitado —e, eventualmente, permitir acordar alguém que temporariamente tenha caído no sono.

A indústria da aviação previu, depois dos atentados nos EUA, a possibilidade de um sequestrador obter esse código de acesso à cabine de comando —mediante ameaça a um piloto que tenha saído, por exemplo.

Criou-se, então, um dispositivo pelo qual quem está na cabine de comando consegue bloquear a abertura da porta, mesmo com a digitação do código correto.

Basta para isso mudar o comando da porta para "lock" (travado). Como a porta da cabine é blindada, é praticamente impossível entrar.

A considerar esse cenário, um comandante disposto a se suicidar conseguiria fazê-lo —algo que apenas as investigações e a posterior revelação das conversas na cabine poderão confirmar.

Apesar de ser um fenômeno raro, há precedente recente: em 29 de novembro de 2013, um piloto se trancou na cabine de um Embraer ERJ-190 da LAM (Linhas Aéreas de Moçambique) durante um voo entre Maputo e Luanda (Angola) quando o copiloto saiu.

Segundo a autoridade de aviação de Moçambique, foi possível ouvir nas gravações da caixa-preta batidas na porta e os alarmes que indicam a digitação do código, do lado de fora, pelo copiloto.

A aeronave caiu sobre a Namíbia; as 33 pessoas a bordo morreram.


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