Folha de S. Paulo


Votação árabe ameaça direita, diz premiê de Israel em apelo a eleitores

Em um pleito que pode resultar em uma representação significativa de árabes-israelenses no Parlamento, o premiê Binyamin Netanyahu divulgou nesta terça-feira (17) um vídeo em que afirma que "o governo de direita está sob ameaça" pois "eleitores árabes estão indo em massa para as urnas".

"Saia para votar, traga seus amigos e família, vote no Likud para suprir a distância entre nós e [partido] Trabalhista", disse o premiê.

A declaração de Netanyahu foi recebida com indignação no país, enquanto se pedia nas redes sociais que a mensagem fosse retirada do Facebook por representar um "discurso de ódio". Usuários ironizavam alertando ao risco de gatos de ruas comparecerem às urnas votando pelo Partido Verde.

Um dia antes, porém, o premiê já havia feito uma declaração radical ao dizer que, se for eleito, não haverá um Estado palestino. Com esse discurso, Netanyahu tenta recuperar o votos de direita que têm migrado ao partido nacional-religioso Casa Judaica, de Naftali Bennett.

Netanyahu convocou estas eleições antecipadas, mas pode ter um resultado ruim no pleito. Pesquisas apontam que ele deverá ter em torno de 21 assentos no próximo Parlamento. Seu rival, a União Sionista, tem previsão de tomar 25 cadeiras.

Isso não significa que Isaac Herzog, líder da União Sionista, será o próximo premiê de Israel. Um governo é formado por 61 cadeiras, e para chegar a esse número os candidatos terão de negociar com os demais partidos. Por isso grupos de centro, como o Yesh Atid e o Kulanu, serão estratégicos.

Herzog passou o dia ao lado de sua aliada Tzipi Livni, do partido Hatnua, indo de urna em urna no país. "Realmente sinto que vamos conseguir", Livni afirmou ao jornal israelense "Haaretz".

Contrapondo-se ao discurso de "segurança" do Likud, a União Sionista tem apostado em propostas econômicas para um país em crise e onde os preços de habitação são proibitivos. O Yesh Atid tem uma plataforma similar.

"A paz não está em discussão", afirmou à Folha Avigail, 31, na região mista de Jafa (sul de Tel Aviv). Ela, que não quis dizer o sobrenome, votou na Lista Compartilhada, que reúne partidos de maioria árabe-israelense. "Queremos lutar contra a política anti-democrática."

URNAS

O comparecimento às urnas era, no começo do dia, mais alto do que o das eleições anteriores. Mas, conforme passavam as horas, aproximou-se da porcentagem dos outros anos. Às 14h locais, eram 36,7% contra os 38,3% de 2013. Em 2006, porém, eram apenas 30,9%.

Relatos confirmavam a impressão de Netanyahu de que havia um grande comparecimento de árabes-israelenses às urnas. Mas não havia informações oficiais, e os primeiros resultados de peso devem ser divulgados às 22h locais por canais de TV.

A Folha acompanhou o voto em Jerusalém e Tel Aviv. Em Israel, é permitido entregar panfletos no dia do voto. Jovens tentavam convencer a reportagem diante da estação central de ônibus de Jerusalém a votar no Likud. "A esquerda vai entregar Jerusalém aos palestinos. Mas o país nos pertence".

Quase 5,9 milhões de cidadãos israelenses poderão votar até as 22h locais. Mas não há voto árabe na Cisjordânia, ocupada por Israel desde a Guerra dos Seis Dias, em 1967. Tampouco a Autoridade Nacional Palestina faz eleições em seu território com periodicidade. A prática é ausente também em Gaza.

Editoria de arte/Folhapress

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