Folha de S. Paulo


Colonos de assentamentos judaicos temem vitória da esquerda na eleição

As colinas na porção norte da Cisjordânia se repetem umas às outras na paisagem, entre pedras, um solo seco e oliveiras agarradas às encostas. Aqui e ali, apanhados de casas quebram a monotonia.

São os assentamentos judaicos na região, considerados ilegais pela lei internacional e constantemente lembrados como um dos empecilhos às negociações entre israelenses e a liderança palestina. A Cisjordânia foi ocupada por Israel em 1967.

Os assentamentos voltam ao discurso político por outra razão: seus moradores terão um importante papel no pleito ao votar em massa na direita. Vivem cerca de 400 mil colonos judeus na Cisjordânia, ou 5% dos israelenses.

A afinidade natural desses eleitores é o partido do ministro da Economia, Naftali Bennett. O Casa Judaica, de ideologia nacional-religiosa, tem como uma de suas premissas manter os assentamentos judaicos fixos na Cisjordânia.

"Bennett defende a soberania israelense na Judeia e em Samaria. É simples assim", diz David Rubin, presidente de uma associação no assentamento de Shilo. Judeia e Samaria são a terminologia local da Cisjordânia, referindo-se ao passado bíblico.

Menos simples é o cenário político israelense, em que o premiê Binyamin Netanyahu poderá tentar montar uma coalizão para um próximo governo, incluindo os assentos conquistados pela Casa Judaica (a previsão é de que sejam 11).

Moradores de Shilo estiveram no comício de Netanyahu em Tel Aviv, no domingo (15). O jornal "Haaretz" registrou o financiamento da manifestação por organizações de colonos, a quem o governo destina verba pública.

SOBREVIDA

Nascido nos EUA, Rubin mudou-se para Shilo há 20 anos "para dar uma vida melhor aos nossos filhos. Acreditamos na ligação histórica do nosso povo com essa terra", afirma.

Os anos não foram fáceis ali. A região é alvo de crítica interna e externa, e em 2001 Rubin e seu filho de então três anos foram cercados por terroristas armados com fuzis AK-47 na estrada de Jerusalém.

Ele foi ferido na perna, a criança foi baleada na cabeça. Ambos sobreviveram.

"Eles queriam que eu fosse embora. Mas a minha resposta foi oposta. Decidi ficar e expandir", conta Rubin.

Ele é responsável hoje por um centro infantil que inclui de uma escola a galinheiros para ajudar no trauma enfrentado por crianças locais.

Rubin afirma que a comunidade de Shilo vê as eleições de terça com "trepidação", preocupada com uma possível vitória da esquerda.

Um governo liderado pela oposição, diz, poderia significar a entrega de assentamentos na Cisjordânia a palestinos. Vive-se ali sob o trauma de 2005, quando colonos foram retirados de Gaza à força pelo Exército.

HISTÓRIA

A argentina Veronica Gareleck mudou-se para o assentamento de Ofra em 2008.

Levou os três filhos e teve outro ali. Religiosa, elogia a tranquilidade da vida na pequena comunidade que funciona como uma família. O cenário entre colinas é bíblico.

"Quando falamos de Israel como 'terra santa', é a isto que estamos nos referindo. Nossa história começou aqui, mas nos expulsaram. Não pensamos que estamos ocupando a terra. Ela é nossa. A esquerda já esteve no poder e quis entregar tudo aos palestinos."


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