Folha de S. Paulo


Sem querer, magnata excêntrico dos EUA confessa ter matado três pessoas

Sem se lembrar de que estava sendo gravado, o milionário excêntrico de Nova York Robert Durst, 71, confessou em um programa de TV exibido neste domingo (15) que assassinou três pessoas.

No domingo, foi ao ar o último episódio da série documental: "The Jinx: A Vida e As Mortes de Robert Durst", do canal HBO. "Jinx", ironicamente, significa algo como "mau agouro" em inglês.

Ao término de uma entrevista, Durst aparentemente esquece-se que ainda está usando um microfone ligado e vai ao banheiro. Lá, em uma conversa confusa consigo mesmo, diz: "Aí está, você foi pego".

"Que diabos eu fiz?", pergunta-se. "Matei todos eles, claro."

Mike Segar -10.dez.2014/Reuters
Robert Durst durante sessão de seu julgamento em dezembro de 2014
Robert Durst durante sessão de seu julgamento em dezembro de 2014

A direção do documentário afirma que o magnata do setor imobiliário, cuja família tem fortuna estimada em US$ 4,4 bilhões, sabia estar com o microfone ativo.

As vítimas às quais Durst se refere seriam sua primeira mulher, Kathleen, cujo corpo nunca foi encontrado, a melhor amiga dele, Susan Berman, e um vizinho, esquartejado no período em que ele viveu disfarçado como uma mulher muda no Texas.

Durante a pesquisa para o documentário, o diretor e sua equipe acabaram descobrindo uma carta escrita por Durst a Berman cuja grafia é praticamente idêntica à de um bilhete enviado pelo assassino à polícia na época do crime.

Confrontado com essa prova obtida pela produção, Durst negou novamente, durante o programa, o seu envolvimento nos casos. Logo depois, porém, saiu para o banheiro e fez a declaração que o incriminou.

Na noite de sábado (14), a polícia de New Orleans, que já havia sido informada da "confissão" antes de o programa ir ao ar, o prendeu sob acusação de assassinato.

Nesta segunda, a Promotoria de Los Angeles o acusou formalmente pela morte de Berman, e o milionário pode ser condenado à morte.

O histórico criminal do milionário começou em 1982, quando sua primeira mulher, Kathleen, desapareceu. O casamento era conturbado, e o próprio Durst admite que a agredia, mas sua culpa no caso nunca foi comprovada.

No ano 2000, as autoridades de NY reabriram o caso e convocaram para depoimento Berman, que tinha 55 anos, era confidente de Durst e atuou como sua porta-voz na década de 1980.

Um mês depois, Berman foi assassinada. Mais uma vez, a polícia não conseguiu provar a participação de Durst nesse crime.

Para fugir das repercussões, o milionário mudou-se para o Texas. Em 2001, seu vizinho, Morris Black, foi morto e esquartejado.

Durst confessou ter cortado o corpo do homem, mas afirmou que o homicídio aconteceu em legítima defesa. Segundo ele, o vizinho morreu acidentalmente -os dois estariam brigando e caíram ao chão quando a arma do milionário teria disparado e atingido Black.

O júri aceitou a tese de Durst, e ele foi considerado inocente.

Em 2010, o documentário "The Jinx" começou a ser produzido depois que o diretor Andrew Jarecki lançou o filme "Entre Segredos e Mentiras", inspirado na vida de Durst. O retratado assistiu ao longa e ligou para Jarecki: queria dar uma entrevista e contar sua visão dos fatos.

O diretor e o produtor Marc Smerling entrevistaram também familiares e amigos das vítimas, além de advogados do milionário.


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