Folha de S. Paulo


Mutilação feminina cresce e atingirá mais de 200 milhões em 15 anos

Mais de 130 milhões de mulheres vivem hoje com as consequências da mutilação genital feminina, como H., de Serra Leoa. A estimativa é que 3 milhões passem pela prática a cada ano.

Mesmo com leis mais rígidas e campanhas de conscientização, o ritual de cortar parte da vagina acontece ainda em 27 países na África e dois no Oriente Médio.

Marlene Bergamo/Folhapress
A jovem H. de Serra Leoa, que sofreu mutilacao genital quando era adolescente
A jovem H. de Serra Leoa, que sofreu mutilacao genital quando era adolescente

Em locais como Somália, Guiné e Egito, mais de 90% da população feminina sofre a mutilação, sem nenhum tipo de orientação médica ou higiene. Nos rituais, uma lâmina comum é utilizada em todas as meninas.

De acordo com a OMS (Organização Mundial da Saúde), a circuncisão ocorre, geralmente, em jovens até 15 anos, mas há casos de mulheres adultas e casadas que também são sujeitas à prática.

A mutilação genital feminina é uma tradição milenar, enraizada por causa de uma profunda desigualdade de gênero, principalmente em países onde a mulher é educada para ser dependente do homem.

A retirada do ponto de prazer sexual é vista como uma garantia de que a mulher será honrada e obediente ao marido.

Outra justificativa apontada por mulheres em um relatório da OMS é que a mutilação genital feminina aumentaria o prazer sexual masculino.

Os opositores à prática nesses países podem estar sujeitos a perseguição e ameaças de morte, como mostra a história contada por H..

São três tipos de mutilação. No processo mais comum, há a remoção parcial ou total do clitóris e dos pequenos lábios, com ou sem o corte também dos grandes lábios. Depois, a pele é costurada.

A maior parte dos países que continuam com esse ritual é predominantemente muçulmana, outros são católicos. Porém, a tradição não está ligada diretamente a nenhuma religião.

Editoria de arte/Folhapress
CORTE NO MUNDOPorcentagem de meninas e mulheres com idade entre 15 e 49 anos submetidas à mutilação genital feminina

Em entrevista à Folha, a queniana Nafissatou Diop, coordenadora do programa de Tolerância Zero à Mutilação Genital Feminina do Fundo de População da ONU, afirma que a tradição é a principal barreira para acelerar seu fim.

"Em 2014, um terço a menos de mulheres foi mutilada na comparação com 30 anos atrás. Mas, com o aumento da população nesses países, o número de meninas afetadas está aumentando novamente. Se isso continuar, 86 milhões de mulheres serão mutiladas até 2030", afirma.

Há 18 anos, ONU e OMS têm uma campanha para o fim da mutilação genital feminina, com apoio de governos, líderes políticos e religiosos e ajuda humanitária médica e psicológica.


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