Folha de S. Paulo


Debate na Folha discute ataque ao jornal francês 'Charlie Hebdo'

"Não se pode confundir esta pequena minoria com os muçulmanos em geral. Mas esta pequena minoria faz muito barulho".

A frase do cartunista da Folha Caco Galhardo pode ser vista como a conclusão do debate sobre o atentado terrorista de radicais islâmicos contra a sede do semanário satírico francês "Charlie Hebdo", em Paris.

Promovido pela Folha, o encontro reuniu, além de Galhardo, o sociólogo e colunista da Folha Demétrio Magnoli e a diretora do Núcleo de Revistas do jornal, Cleusa Turra, para discutir o ataque de 7 de janeiro, que deixou 12 mortos. A mediação do evento foi da repórter especial Sylvia Colombo.

Caco Galhardo/Editoria de Arte/Folhapress

Antes do debate, foi exibido o documentário "Charlie Hebdo", que começou a ser rodado em 2011. O filme retrata os mais de 40 anos da publicação e faz o perfil de alguns de seus membros, inclusive de mortos no atentado.

Galhardo afirmou que o "espírito libertário" do "Charlie Hebdo" é "lindo". Mas ele se preocupa com as consequências do atentado.

Além da tragédia da perda de vidas humanas, ele lembrou que, pouco após o ataque, um evento na Dinamarca que discutiria a liberdade de imprensa foi cancelado após um ataque terrorista que deixou um morto.

Isso poderia parecer um sinal de que os extremistas haviam atingido seu objetivo.

Magnoli diz que, após o ataque, os governos europeus acertaram em seus discursos ao fugirem da lógica fácil do "choque de civilizações".

Ele lembrou as declarações do premiê francês, Manuel Valls, de que "a França está em guerra contra o terrorismo e o jihadismo, e não contra o islã e os muçulmanos".

Magnoli citou também a afirmação da chanceler alemã, Angela Merkel, de que "o islã é parte da Alemanha, assim como o cristianismo e o judaísmo".

Segundo o sociólogo, o atentado significou para a população uma quebra no "acordo de convivência" que está previsto no pensamento do multiculturalismo.

"Ao dizer 'Je suis Charlie' [eu sou Charlie], não estou dizendo que concordo com o jornal, mas, sim, que as pessoas têm o direito de dar a sua opinião", afirmou.

A diretora do Núcleo de Revistas da Folha estava em Lyon (sudeste da França) no dia do atentado e foi enviada a Paris para acompanhar a manifestação.

Cleusa disse que a cidade parou naquele dia e que, além de muçulmanos, havia muitos curdos e membros de outras minorias na passeata.

No documentário, uma frase do cartunista Charb, um dos mortos durante o atentado, soa trágica.

"O que nos tranquiliza é que não são os muçulmanos os mais agressivos. É sempre a extrema direita francesa."


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