Folha de S. Paulo


'Jihadi John' tem reputação de executor impiedoso

O homem conhecido como "Jihadi John" é chamado por seus comandados no norte da Síria de Abu Abdullah al-Britani, e é visto como executor impiedoso que não hesita em matar quando assim ordenado.

Nos dois últimos anos, ele vem ascendendo nas fileiras da milícia e assumiu papel de liderança no corpo de jihadistas estrangeiros que formam larga proporção dos combatentes no Estado Islâmico no Iraque e na Síria (EI).

Também desempenhou um papel nas negociações para libertar reféns europeus capturados pelos jihadistas em 2012 e 2013. Dois funcionários de governos ocidentais envolvidos nas discussões disseram que a pessoa com quem conversaram no Skype tinha voz idêntica à do homem agora identificado como Mohammed Emwazi.

"Jihadi John" é um dos três britânicos que mantiveram cidadãos espanhóis, franceses, dinamarqueses, britânicos e norte-americanos como reféns. Os reféns foram capturados no norte da Síria, alguns na província de Idlib, outros em Aleppo e um terceiro grupo na província de Raqqa e arredores; a qual se tornou o maior baluarte do EI na Síria, nos últimos anos.

A célula jihadista que deu origem ao EI era forte na província de Idlib, originalmente, tendo fincado raízes na região na metade de 2012. De lá, se expandiu para Aleppo, onde os reféns capturados até aquele momento ficavam aprisionados em um de dois locais - sob um hospital oftalmológico no centro da cidade ou em uma fábrica no coração de um bairro industrial em seu subúrbio norte.

Em fevereiro do ano passado, todos os reféns estrangeiros, entre os quais o britânico John Cantlie, um dos dois reféns ocidentais ainda em mãos dos radicais, foram transferidos a Raqqa.

Foi em Raqqa que os reféns primeiro se conscientizaram do status adquirido por Emwazi junto ao EI. Um ex-refém o descreve como "frio, sádico e impiedoso".

Há também a impressão de que Emwazi desempenha papel importante na segurança tecnológica dos jihadistas, que até o momento vêm conseguindo disfarçar as origens de todas as comunicações entre os líderes do EI em Raqqa e os governos ou enviados encarregados de conduzir negociações sobre os reféns.

Nem o Quartel-General de Comunicações do Governo (GCHG), britânico, nem a Agência Nacional de Segurança (NSA), americana, foram capazes de penetrar a rede de segurança digital da milícia. Quando tentaram fazê-lo, constataram que as comunicações do EI haviam sido mascaradas para fazer parecer que sua origem era Tel Aviv.

Acredita-se que as atividades de Emwazi tenham se limitado em larga medida à região de Raqqa. Ele não foi ferido durante a campanha de bombardeios aéreos liderada pelos Estados Unidos.

Emwazi tem presença proeminente nos campos de treinamentos de novos recrutas a oeste de Raqqa, onde frequentemente trabalha em companhia de outro líder jihadista estrangeiro - um australiano. O australiano é treinador de atiradores de precisão, e Emwazi serve como comandante do campo de treinamento.

O campo, localizado em uma área chamada Muscana, foi bombardeado por jatos de combate nas semanas anteriores ao Natal. Ainda que ele seja muito conhecido entre os jihadistas, poucas pessoas do movimento estão cientes da identidade real de Emwazi. As referências a ele são feitas por seu nome de guerra, Abu Abdullah al-Britani.

Dois antigos membros do EI que deixaram a organização no final do ano passado disseram que quando aspirantes a jihadistas cruzam a fronteira em direção a áreas controladas pelo EI, eles são encorajados a se concentrar em suas novas identidades e a rejeitar o passado.

"Eu o vi muitas vezes", diz um antigo membro. "Sabia que era ele por seu porte e perfil. As pessoas que estavam comigo também sabiam quem era ele. Mas não podíamos fazer perguntas".

"Isso seria perigoso demais. Para nós, ele era aquele cara britânico que executa pessoas".

Tradução de PAULO MIGLIACCI


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