Folha de S. Paulo


Ucrânia e separatistas chegam a acordo para trégua no leste do país

O governo da Ucrânia e os separatistas pró-Rússia chegaram nesta quinta-feira (12) a um acordo para o cessar-fogo nos combates no leste do país. A trégua está prevista para começar à 0h de domingo (19h de sábado em Brasília).

Embora tenham chegado ao acordo para a suspensão dos combates, nem as autoridades de Kiev nem os rebeldes deram sinais de que pretendem dar fim ao conflito que, segundo a ONU, deixou cerca de 5.300 mortos desde abril.

Vasily Fedosenko/Reuters
Os quatro dirigentes europeus chegam ao encontro de Minsk, em Belarus, na noite de quarta-feira (12)
Os quatro dirigentes europeus chegam ao encontro de Minsk, em Belarus, na noite de quarta-feira (12)

O pacto foi selado após 15 horas de reuniões em Minsk, capital de Belarus, entre o presidente da Ucrânia, Petro Poroshenko, e da Rússia, Vladimir Putin, além de representantes das regiões de Lugansk e Donetsk.

Também participaram da reunião a chanceler alemã, Angela Merkel, e pelo presidente francês, François Hollande, que viam o encontro como a última chance de uma solução pacífica para o conflito.

Além da trégua, os dois lados concordaram com a retirada de tropas e da artilharia pesada em um corredor entre 50 e 70 km nas áreas controladas pelo Exército ucraniano e pelos separatistas, a ser iniciada dois dias depois do início do cessar-fogo.

Eles também permitirão a libertação nos próximos 19 dias de todos os capturados pelos separatistas durante o conflito e que a Ucrânia terá o controle de toda a fronteira com a Rússia, hoje dividida com os rebeldes, até o fim deste ano.

O acordo será monitorado periodicamente em reuniões entre Poroshenko, Putin, Merkel e Hollande. Apesar da suspensão dos combates, ainda foram mantidas divergências entre Rússia, Ucrânia e os separatistas, o que tornou a negociação tensa.

A divisão entre as duas partes ficou evidente na entrevista coletiva após o encontro. O líder russo disse que a Ucrânia deveria dar mais autonomia às regiões de Donetsk e Lugansk, o que foi rejeitado pelo mandatário ucraniano.

Por outro lado, Poroshenko disse que foi acertado um compromisso para a retirada de tropas estrangeiras do país, em alusão à Rússia. Moscou nega que tenha enviado soldados ao leste ucraniano, embora haja provas da presença militar russa.

Putin ainda criticou a insistência de Poroshenko em não dar detalhes sobre os combates em Debaltseve, cidade controlada pelo governo e que há duas semanas enfrenta uma ofensiva dos separatistas.

Nesta quinta, o porta-voz das forças de Kiev, Andriy Lysenko, disse que 50 tanques, 40 lançadores de foguetes e blindados atravessaram a fronteira da Rússia com a Ucrânia, em uma ação interpretada por Kiev como mais um apoio da Rússia aos separatistas.

ACORDO DIFÍCIL

Para o presidente ucraniano, não foi fácil chegar ao acordo com os separatistas. "Nos sugeriram diversos tipos de condições inaceitáveis: concessões, retiradas. Mas não cedemos em relação ao ultimato e impusemos a postura de que o cessar-fogo deve ser estabelecido sem condições prévias."

Enquanto isso, o líder da autoproclamada República Popular de Donetsk, Alexander Zakharshenko, afirmou que o pacto traz a esperança de uma solução pacífica. "Não temos outra alternativa que dar esta oportunidade à Ucrânia", disse.

A tensão nas negociações também fez com que França e Alemanha reduzissem as expectativas de que o acordo seja cumprido. Angela Merkel disse não ter ilusões sobre o pacto porque sobraram ainda muitos obstáculos na crise ucraniana.

"Agora nós temos uma ideia vaga de esperança, mas ainda há muito, mas muito trabalho a ser feito", disse a chanceler alemã, que também declarou que Putin precisou pressionar muito os separatistas para chegar ao cessar-fogo.

O ministro das Relações Exteriores alemão, Frank-Walter Steinmeier, afirmou que o acordo "não é uma solução global para o conflito e pode ser arruinado a qualquer momento". "Esperávamos mais, mas foi aquilo que os presidentes da Ucrânia e da Rússia puderam chegar".

Para François Hollande, o pacto é uma chance real de melhorar a situação, apesar de ainda ser necessário muito trabalho para chegar à paz. Enquanto ocorria a negociação, seguiam os combates na região conflagrada.

A piora da situação começou em janeiro, quando foi rompido o cessar-fogo acertado entre as autoridades de Kiev e os rebeldes em setembro. Desde então, os separatistas começaram a ganhar terreno e impor derrotas ao Exército ucraniano.

Como resposta, os Estados Unidos começaram a falar abertamente em armar as forças ucranianas, o que poderia elevar os confrontos a uma escala global. Na terça (10), o presidente Barack Obama alertou a Putin sobre o preço que ele pagaria se a Rússia continuasse a armar os rebeldes.


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