Folha de S. Paulo


Denúncia contra Cabello aumenta crise na Venezuela

Com ainda três anos de mandato, o presidente venezuelano, Nicolás Maduro, enfrenta ampla rejeição popular, tensão social e uma crise econômica que ameaça implodir o país.

A situação do governo complicou-se ainda mais com a revelação nesta terça-feira de uma denúncia, em trâmite na Justiça americana, acusando o presidente do Parlamento e oficial do Exército, Diosdado Cabello, de ser narcotraficante.

Miguel Gutiérrez/Efe
Maduro e o presidente da Assembleia Nacional, Diosdado Cabello, em foto de arquivo
Maduro e o presidente da Assembleia Nacional, Diosdado Cabello, em foto de arquivo

Um dos personagens mais poderosos do país, Cabello seria chefe de um cartel que opera a partir das Forças Armadas venezuelanas.

Segundo o jornal espanhol "ABC", a denúncia foi feita por Leamsy Salazar, ex-guarda-costas de Cabello que fugiu para os EUA para colaborar com investigadores locais.

O partido governista PSUV admitiu a deserção e confirmou que Salazar também foi segurança de Hugo Chávez até a morte do então presidente, em 2013.

Salazar disse que os aviões da estatal petroleira PDVSA são usados para transporte de cocaína e que o comércio ilícito é orquestrado pelo filho de Chávez com apoio logístico de Cuba.

Cabello disse que as acusações são parte de um complô para denegrir a revolução bolivariana e recebeu apoio de Maduro, a quem chamou de "irmão revolucionário".

A situação, porém, ameaça fragilizar ainda mais o governo caso os EUA confirmem oficialmente vínculos de Cabello com outras autoridades venezuelanas investigadas por narcotráfico.

Para analistas pró-governo, a denúncia atende ao interesse americano de deslegitimar Maduro e fortalecer a oposição direitista a menos de um ano das eleições legislativas.

Críticos, porém, dizem que o caso corrobora suspeitas de tensa rivalidade entre Maduro, apontado por Chávez como seu sucessor, e Cabello, que chegou a dizer que não acreditava no "chavismo sem Chávez."

Maduro e Cabello sempre negaram atritos, mas Caracas há meses convive com rumores de que o líder do Legislativo planeja tomar a Presidência caso se agrave a crise.

"A pergunta é: a quem interessa eliminar Cabello como sucessor?", diz o consultor político Carlos Raúl Hernandez. "[A denúncia] talvez sirva para impedir que Maduro saia de cena", afirma, insistindo em que, diante da falta de provas, ainda se trata de especulação.

O caso surge dois anos após Maduro ser empossado em eleição convocadas às pressas pela morte de Chávez e em meio a um pico de tensão pela escassez de produtos básicos como remédios e alimentos.

Os estoques não foram repostos porque o governo vem restringindo aos comerciantes os dólares necessários à importação.


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