Folha de S. Paulo


Iêmen tem dia de protestos após renúncia do presidente

Milhares de pessoas foram às ruas de Sanaa e de outras cidades do Iêmen, nesta sexta-feira (23), algumas em apoio ao governo e outras em suporte ao grupo xiita Houthi, protagonista da onda de violência que ocorreu nesta semana em Sanaa, capital do Iêmen.

As manifestações ocorrem um dia depois da renúncia do presidente iemenita Abdo Rabu Mansur Hadi, rejeitada pelo Parlamento, e do primeiro-ministro Khaled Bahah,

Na praça que foi o centro dos protestos no país durante a Primavera Árabe, um pequeno grupo de ativistas pró-governo segurava cartazes com as frases "Não ao golpe" e "Não à milícia", enquanto cantava "nós somos a revolução".

"Nós viemos aqui para repudiar os eventos que estão acontecendo. Nós fomos às ruas para construir um Estado e a nossa demanda ainda é ter um Estado", disse a ativista Farida Al-Yareemi.

Cerca de 20 mil apoiadores dos rebeldes houthis ocuparam a via que leva ao aeroporto da capital. Alguns levavam cartazes com a frase "Deus é grande, morte aos EUA, morte a Israel, maldição aos judeus e vitória ao Islã".

Khaled Abdullah/Reuters
Apoiadores do grupo Houthi participam de marcha em Sanaa na sexta-feira (23) em apoio ao movimento
Apoiadores do grupo Houthi participam de marcha em Sanaa na sexta-feira (23) em apoio ao movimento

Em Áden, no sul do país, manifestantes levantaram bandeiras separatistas, condenando os ataques dos houthis nesta semana, na capital.

A crise política no Iêmen se agravou nesta semana por conta de ataques dos houthis a centros de poder em Sanaa. Os enfrentamentos entre os rebeldes armados e as forças de segurança iemenitas deixaram ao menos 35 mortos e 94 feridos nos últimos dias.

Na quarta, os rebeldes xiitas e o presidente Hadi realizaram uma negociação na residência do presidente para cessar as hostilidades. No pacto, que não foi cumprido, os houthis concordaram em desocupar o palácio presidencial bem como deixar de atacar a casa do presidente em troca de emendas na Constituição e maior representatividade no Parlamento e em instituições estatais.

Arte/Folha
MAPA - ONDE FICA O IÊMEN
MAPA - ONDE FICA IÊMEN

A situação provocou a renúncia do presidente e do primeiro-ministro na quinta-feira (22). Ambos alegaram a impossibilidade de conduzir a situação, que Hadi avaliou como "impasse total".

O Parlamento iemenita, que rejeitou prontamente o pedido de renúncia de Hadi, convocou uma sessão especial para discutir a crise política no próximo domingo (25). Nela, os parlamentares farão uma segunda votação para definir se aceitam ou não a renúncia de Hadi.

Caso a renúncia seja aceita, a Constituição do país aponta que o líder do Parlamento, Yahia Al-Raie, assuma o controle do país até a organização de novas eleições. Al-Raie é membro do Congresso Geral Popular, o mesmo partido do presidente Ali Abdullah Saleh, que renunciou em 2011, em meio à Primavera Árabe.

Os houthis ainda não anunciaram uma posição oficial diante da atual situação, embora tenham saudado a renúncia do presidente. Uma autoridade iemenita afirmou que os radicais propuseram a formação de um conselho presidencial interino, ideia que foi rejeitada por uma coalizão de partidos.

O grupo Houthi, também conhecido como Ansar Allah ("Seguidores de Allah", em português), é originário do norte do Iêmen e há meses tenta estender sua influência no país. Os houthis tomaram controle de uma grande parte de Sanaa em 21 de setembro, gerando instabilidade política. Os houthis recusam um novo projeto de Constituição que, dividindo o país em seis zonas, lhes privaria de acesso ao mar.


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