Folha de S. Paulo


Presidente do Iêmen renuncia, mas Parlamento não aceita demissão

O presidente do Iêmen, Abdo Rabbo Mansur Hadi, anunciou nesta quinta-feira (22) a sua demissão, que foi imediatamente rejeitada pelo Parlamento, logo após todo o governo ter apresentado sua renúncia, no momento em que o país afunda em uma profunda crise política.

Hadi apresentou sua "renúncia ao cargo de presidente da República do Iêmen" em uma carta enviada ao Parlamento, da qual a AFP obteve uma cópia.

Na carta, Hadi avalia que o país chegou a uma situação de "impasse total". Ele explicou sua decisão pelo fato de que a entrada de milicianos do grupo xiita Houthi em Sanaa, em 21 de setembro, "afetou o processo de transição política que queríamos que fosse pacífica".

"Eu avalio (hoje) não ter sido capaz de alcançar o objetivo para a realização daquilo para o qual nós assumimos a responsabilidade" no comando do Estado, prosseguiu.

Segundo o entorno de Hadi, o presidente demitiu-se após ter sofrido enormes pressões dos milicianos "Ansar Allah" (Seguidores de Allah, em português), que controlam a capital Sanaa e reivindicaram que ele designe a cargos de alta responsabilidade vários de seus quadros, um deles como vice-presidente.

"Nós sofremos várias dificuldades e a reticência de protagonistas políticos em assumir sua responsabilidade para conduzir o Iêmen a águas calmas", acrescentou o presidente em sua carta demissionária.

O Parlamento rejeitou o pedido e imediatamente convocou uma sessão especial para discutir a crise política.

"O Parlamento, representado por seu chefe Yahya al-Rai, se recusa a aceitar a renúncia do presidente e decidiu realizar uma sessão especial sexta-feira de manhã", declarou à AFP uma autoridade que não quis se identificar.

A renúncia de Hadi foi apresentada pouco depois da do governo do premiê Khaled Bahah e no momento em que os milicianos xiitas reforçam o seu controle sobre a capital Sanaa.

O porta-voz governamental afirmou que a renúncia do governo era "irrevogável".

Em sua carta de demissão, da qual a AFP também obteve cópia, o primeiro-ministro Khaled Bahah justificou a sua decisão para "evitar ser, bem como os membros de seu gabinete, responsabilizado por aquilo que acontece e pelo que vai acontecer no Iêmen".

Ele declarou ter servido ao país desde a sua nomeação, em 7 de novembro, e a votação de confiança do Parlamento, em 18 de dezembro.

"Mas a situação evoluiu em uma direção diferente e estamos decididos a nos manter longe de aventuras políticas que respeitam nenhuma lei", acrescentou.

Na quarta-feira (21), o primeiro-ministro precisou negociar a saída de sua residência no centro de Sanaa, que estava cercada pelos milicianos xiitas, assim como o palácio presidencial.


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