Folha de S. Paulo


'Não são humanos, são monstros', diz yazidi libertado sobre Estado Islâmico

Cinco meses e dezesseis dias é o tempo que Jami Yamu, 63, ficou sob poder dos extremistas do grupo Estado Islâmico (EI) em Tal Afar, no norte do Iraque.

"Nos maltrataram e levaram nossos pertences. Não são seres humanos, são monstros", denunciou ele em declarações à agência EFE.

Já Aidu Hayi, 68, tem cada segundo do período sob o julgo dos milicianos gravado em sua mente.

"Nos trataram muito mal. Não nos davam comida e nos pressionavam e ameaçavam para que nos convertêssemos ao islã", disse.

Após serem libertados no sábado (17), cerca de 200 yazidis voltaram a se sentir com vida, ainda que com rostos pálidos e saúde deteriorada.

Assustados, relataram à EFE o martírio de seu cativeiros, que começou quando, em junho passado, os extremistas passaram a controlar a maior parte do norte do Iraque, expulsando, matando ou sequestrando os seguidores da religião yazidi, a quem consideram "infiéis" -assim como qualquer pessoa não islâmica.

Burges Elias, 61, relata à EFE como "uns barbudos" separaram as mulheres de seus maridos –de quem não têm informações desde então–e as obrigaram a ficar em casa até voltarem para sequestra-las mais tarde.
O grupo de reféns, entre os quais havia mulheres, crianças e idosos, foi inicialmente colocado na prisão de Tal Afar, cidade a oeste de Mossul.

Depois, foi transferido para outra prisão, em Al Raim, na província de Kiruk, onde ficaram até serem soltos.

Khalil Al-a'Nei - 17.jan.2015/Efe
Yazidis esperam em checkpoint em Kiruk, no Curdistão iraquiano
Yazidis esperam em checkpoint em Kiruk, no Curdistão iraquiano

Livres, caminharam até zonas controladas por forças curdas, de acordo com informações do diretor de Assuntos Yazidis da província de Dohuk, Hadi Dubani.

Para Dubani, os reféns foram liberados porque sofrem de doenças crônicas.

Os 196 soltos foram levados a Erbil, capital do Curdistão iraquiano, onde foram submetidos a exames médicos e, posteriormente, levados a um templo em Dohuk, onde, segundo Dubani, afirmaram que não abandonariam sua religião.

Rodi Said/Reuters
Yazidis fogem do Estado Islâmico em direção á Síria, em foto tirada em agosto de 2014
Yazidis fogem do Estado Islâmico em direção á Síria, em foto tirada em agosto de 2014

Na chegada a Dohuk de ônibus, foram recebidos com aplausos e lágrimas, tanto de vizinhos como de familiares.

Uma das liberadas, que tinha 70 anos, morreu ao descer do ônibus e abraçar uma de suas filhas e seu primo, Jairi Shankali, que detalha que a morde se deu devido a "cinco meses de cansaço acumulado durante o sequestro".

Jasem Jamu, 73, mal pode falar. Está esgotado e sua maior lembrança é de como os jihadistas matavam os jovens yazidis e capturavam suas mulheres.

"Estávamos em um edifício muito grande, presos por homens armados e, de lá, podíamos ver mais de 500 mulheres yazidis que haviam sido capturadas em diferentes aldeias de Sinjar. Não sabemos onde estão agora", disse á EFE.

A alguns dos sequestrados, os extremistas explicaram que Abu Bakr al-Baghdadi, líder e autoproclamado califa do EI, havia concedido um indulto aos yazidi.


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