Folha de S. Paulo


Secretário de Segurança diz que morte de promotor argentino parece suicídio

O secretário de Segurança argentino, Sergio Berni, afirmou que "todos os caminhos apontam a um suicídio" no caso Nisman.

Ele disse que em criminalística, "se há um corpo, uma arma e uma cápsula, todos os caminhos apontam para um suicídio", disse ele ao canal de TV C5N.

Berni, que foi o responsável por comunicar à presidente Cristina Kirchner o ocorrido, acrescentou que "as perícias são fundamentais" e disse esperar que " a Justiça as corrobore".

Entretanto, disse que a porta do banheiro onde o corpo foi encontrado não estava trancada por dentro, o que pode indicar que alguém a utilizou para deixar a cena do crime.

Já a legisladora portenha Graciela Ocanña afirmou que o possível suucídio "é uma hipótese muito prematura" e que talvez alguns estejam buscando colocála com "alguma intencionalidade".

Marcos Brindicci/Reuters
O promotor argentino Alberto Nisman
O promotor argentino Alberto Nisman

O secretário ainda informou que o corpo se encontra no necrotério e que deve haver mais informações ao longo do dia.

O promotor argentino Alberto Nisman, que denunciou a presidente Cristina Kirchner por suposto encobrimento do Irã em um atentado contra um centro de convivência de judeus, foi encontrado morto no banheiro seu apartamento no bairro de Puerto Madero, em Buenos Aires, com um tiro na cabeça.

O corpo de Nisman foi descoberto apenas algumas horas antes de seu comparecimento previsto para hoje ao Congresso para detalhar a denúncia que atinge Cristina e vários de seus colaboradores por um aparente encobrimento aos supostos autores do atentado contra a Amia que causou 85 mortos e mais de 300 feridos em 1994.

Alberto Nisman tinha se tornado o centro da atenção política nos últimos dias após denunciar a presidente e vários de seus colaboradores, entre eles o chanceler, Héctor Timerman, pelos delitos de "encobrimento agravado, descumprimento de dever de funcionário público e estorvo do ato funcional".

A denúncia, baseada em escutas telefônicas, atinge também o deputado governista Andrés Larroque, os militantes Luis D'Elia e Fernando Esteche, pessoal da secretaria de Inteligência da presidência argentina, o ex-promotor federal e ex-juiz de instrução Héctor Yrimia e o referente comunitário iraniano Jorge "Yussuf" Khalil.

Claudio Fanchi/Xinhua
Corpo de Alberto Nisman é retirado do edifício onde o promotor vivia, em Buenos Aires
Corpo de Alberto Nisman é retirado do edifício onde o promotor vivia, em Buenos Aires

Ele contava com gravações de conversas telefônicas entre as autoridades iranianas e agentes de inteligência e mediadores argentinos que, segundo ele, demonstrariam que a Argentina assinou um acordo com o Irã que implicaria no encobrimento dos suspeitos do atentado contra a Amia em troca do impulsionamento do comércio bilateral entre os países –notadamente a troca de petróleo por grãos–, num contexto de crise energética no país sul-americano.

A oposição esperava conhecer hoje novos detalhes durante o pronunciamento de Nisman no Congresso, enquanto o Governo apressou-se a fechar fileiras em defesa de Cristina Kirchner, e acusou o promotor de mentir e de se deixar arrastar por conflitos internos na Secretaria de Inteligência.

O atentado contra a Amia causou 85 mortos e 300 feridos no dia 18 de julho de 1994, dois anos depois que uma bomba explodiu em frente à embaixada de Israel em Buenos Aires causando 29 vítimas fatais.

Enrique Marcarian - 18.jul.94/Reuters
Equipe de resgate trabalha sobre escombros do prédio destruído no atentado, em 1994
Equipe de resgate trabalha sobre escombros do prédio destruído no atentado, em 1994

A investigação e a comunidade judaica atribuem ao Irã e à organização Hezbollah o planejamento e execução de ambos os atentados.


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