Folha de S. Paulo


Promotor acusa Cristina de encobrir iranianos suspeitos por ataque de 1994

Cristina Kirchner e o chanceler argentino Héctor Timerman foram denunciados por um promotor por encobrir iranianos acusados de serem os mentores de um atentado a um centro de convivência de judeus de Buenos Aires, que aconteceu em 1994. A explosão deixou 85 mortos.

O promotor Alberto Nisman acusa os dois por uma suposta negociação de um plano de impunidade e encobrimento dos autores iranianos, que fugiram do país.

Segundo o jornal "Clarín", foram acusados a presidente, o chanceler, um deputado, um agente da secretaria de inteligência, dois militantes, um ex-juiz e um representante da comunidade iraniana.

Além do pedido de indagação judicial, o promotor pede o embargo da renda dos acusados, que chega a 200 milhões de pesos (cerca de R$ 67 milhões).

Enrique Marcarian - 18.jul.94/Reuters
Equipe de resgate trabalha sobre escombros do prédio destruído no atentado, em 1994
Equipe de resgate trabalha sobre escombros do prédio destruído no atentado, em 1994

O argumento é que teria havido um plano para eximir o Irã de qualquer participação no caso, em troca de se aproximar do país para trocar petróleo por produtos agrícolas argentinos. Em 2012, os governos dos dois países assinaram um acordo pelo qual o Irã se comprometeu a interrogar os acusados na Argentina, mas não ficou obrigado a prender ou extraditá-los.

A Justiça argentina investiga sete iranianos pelo atentado, sendo que alguns deles serviram na embaixada em Buenos Aires.

Nisman denunciou dois militantes governistas como responsáveis por uma negociação para culpar terceiros e abrir o caminho para um acordo com o Irã. Para fazer a denúncia, ele usou interceptações telefônicas.

Um desses militantes é Luis D'Elia. Ele teria sido usado para negociar o acordo. Segundo a acusação, D'Elia enviou a um diplomata iraniano o seguinte texto: "Tenho uma mensagem urgente do governo argentino para passar urgentemente para lá [Irã] antes de amanhã. Estou na casa de governo agora. Não há assunto mais importante do que esse, acredite em mim".

O promotor considera que a Presidência queria se comunicar com Teerã por canais extraoficiais, com urgência, o que seria próprio de um plano criminal.

O chanceler Timerman é de origem judaica. Ele é filho de um empresário que foi detido e torturado por militares antissemitas durante a última ditadura argentina, entre 1976 e 1983.

RESPOSTA

O secretário da Presidência da Argentina, Aníbal Fernández, afirmou que a acusação "é ridícula".

Falando a um canal de TV, ele afirmou que o Congresso deve votar os tratados que a presidente assina, e que, se o acordo com o Irã teve como contrapartida eximir os acusados pelo crime, "por que todos nós, senadores e deputados que votamos, não fomos convocados?" –Fernández era senador antes de assumir a Secretaria da Presidência.


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