Folha de S. Paulo


Tribunal turco proíbe sites que reproduzam capa do "Charlie Hebdo"

Um tribunal de Diyarbakir, cidade de maioria curda no sudeste da Turquia, decidiu proibir nesta quarta-feira (14) em todo o país o acesso a sites que mostrem a capa do jornal satírico francês "Charlie Hebdo".

A publicação foi alvo de um atentado reivindicado pela Al Qaeda na Península Arábica em que 12 pessoas morreram e 11 foram feridas. Os autores e os mandantes afirmaram que era uma ação para vingar Maomé.

O maior profeta do islamismo é retratado com frequência nas charges do jornal, inclusive na última edição, em que aparece na capa. Para alguns ramos do islã, qualquer representação de Maomé é considerada blasfêmia.

Segundo a agência de notícias turca Anadolu, a medida foi colocada por um advogado de Diyarbakir, que justificou o processo dizendo que os sites que exibiam as caricaturas representavam um perigo à ordem pública.

Diferentemente do Irã e de entidades islâmicas, o governo turco não comentou oficialmente sobre a publicação das charges de Maomé. A única autoridade que comentou sobre o caso foi um dos vice-primeiro-ministros Yalcin Akdogan.

"Aqueles que desprezam os valores sagrados dos muçulmanos publicando desenhos que supostamente representam o nosso profeta são claramente provocadores", disse Akdogan, no microblog Twitter.

JORNAL

No país, apenas o jornal "Cumhuriyet", de Istambul, publicou algumas das charges do "Charlie Hebdo". A publicação turca ofereceu a seus leitores quatro páginas de charges e textos do semanário satírico francês.

Segundo a publicação, a intenção inicial era exibir a edição integral, incluindo a capa com a caricatura de Maomé, mas que a mudança aconteceu após uma reunião de editores. Mesmo assim, dois colunistas publicaram o desenho em seus espaços.

O "Cumhuriyet" informou que, durante a madrugada, policiais pararam caminhões que deixavam a gráfica da publicação, em Istambul, para ver o conteúdo do jornal e que os agentes só liberaram a edição após ver que não havia a caricatura de Maomé.

Não se sabe se as páginas dos colunistas passaram despercebidas pela polícia. O editor-chefe do jornal, Uktu Cakirozer, disse em comunicado que "respeitou a liberdade de culto e a sensibilidade religiosa" ao fazer a seleção.

"Podem ter existido algumas pessoas que estavam preocupadas com que isso pudesse ser um problema, que menosprezasse a crença religiosa, mas eu penso que estas pessoas não vão pensar desta forma quando veem a edição de hoje", disse.

As redações do jornal em Istambul e em Ancara amanheceram sob forte esquema de segurança. Segundo a agência de notícias estatal Anadolu, dezenas de estudantes pró-islâmicos fazem um protesto na sucursal do jornal na capital Ancara.


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