Folha de S. Paulo


Novo número do 'Charlie Hebdo' mantém irreverência que o fez famoso

A primeira edição do semanário "Charlie Hebdo" publicada depois dos ataque de militantes islâmicos se esgotou em minutos nas bancas de jornais de toda a França nesta quarta-feira (14), com pessoas fazendo fila para comprar exemplares em apoio ao semanário satírico.

Uma tiragem de cerca de 3 milhões de cópias foi programada para a chamada "edição dos sobreviventes", superando em muito os habituais 60.000 exemplares.

Dezessete pessoas morreram em Paris em três dias de violência que começaram com o ataque de dois homens islâmicos armados contra a redação do "Charlie Hebdo" no dia 7 —que deixou 12 mortos e terminaram com um cerco em um supermercado kosher dois dias depois.

Pelo menos 3,7 milhões de pessoas participaram de uma marcha em Paris e outras cidades da França no domingo (11) para honrar a memória das vítimas, entre as quais jornalistas, policiais e clientes do supermercado.

A capa da edição do mostra uma caricatura de um Maomé choroso segurando um cartaz com os dizeres "Je suis Charlie" (Eu sou Charlie) sob a manchete: "Tout est pardonné" (Tudo está perdoado).

Dentro da edição, vê-se o humor irreverente habitual do semanário e o tom intencionalmente ofensivo que fez o jornal famoso na França.

As duas primeiras páginas incluem desenhos dos cartunistas mortos: uma mostra uma freira francesa conhecida, mas já falecida, conversando sobre sexo oral; outra mostra líderes muçulmanos, cristãos e judeus dividindo o mundo entre si.

Outra tira mostra jihadistas dizendo: "Não deveríamos tocar no pessoal do Charlie... caso contrário, eles vão ser vistos como mártires e, uma vez no céu, esses bastardos vão roubar nossas virgens".

O principal editoral faz uma defesa vigorosa do secularismo e do direito do jornal de ridicularizar as religiões e fazer seus líderes prestarem contas —e termina com uma crítica ao papa.

"O que nos faz rir mais é que os sinos de Notre-Dame tocaram em nossa homenagem", diz o editorial do semanário, que surgiu do movimento de libertação de 1968 e há muito zomba de todas as religiões e dos pilares do poder.

Toda a receita da venda da edição desta semana irá diretamente para o Charlie Hebdo, o que dará novo fôlego para uma publicação que vinha lutando com dificuldades financeiras. O preço de capa era de 3 euros (4 dólares). Um pedido de doações também foi ao ar na mídia nacional.


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