Folha de S. Paulo


O islamismo declarou guerra ao nosso país, diz Marine Le Pen

A presidente da Frente Nacional (FN), partido francês de extrema direita, Marine Le Pen, referiu-se ao ataque contra a sede do jornal "Charlie Hebdo", ocorrido na quarta (7), como uma declaração de guerra do islamismo ao país.

Em entrevista à Folha por email, Le Pen disse que é preciso "responder sem fraquejar" ao "totalitarismo religioso que mata todo dia centenas de inocentes no mundo".

Para ela, tanto a esquerda quanto a direita não escutaram os alertas da FN sobre o "perigo" do fundamentalismo islâmico.

Roberto Pratta - 30.nov.2014/Reuters
Marine Le Pen, líder da Frente Nacional, durante evento em novembro de 2014
Marine Le Pen, líder da Frente Nacional, durante evento em novembro de 2014

Le Pen é provável candidata às eleições presidenciais de 2017, e, segundo pesquisa do Instituto Francês de Opinião Pública (Ifop) de novembro, iria para o segundo turno se as eleições fossem hoje.

A líder da FN não foi chamada para a "marcha republicana" em homenagem às vítimas neste domingo (11). Para ela, a decisão é uma "manobra para tentar excluir o único movimento político que não tem nenhuma responsabilidade pela situação atual".

Folha - Como o ataque afeta o discurso da Frente Nacional?

Marine Le Pen - Esse atentado deve levar, como a Frente Nacional pede há anos, a um debate sobre o fundamentalismo islâmico, a uma estratégia clara para erradicá-lo e à implementação de uma política forte.

O islamismo, esse totalitarismo religioso que mata todo dia centenas de inocentes no mundo, declarou guerra ao nosso país. Devemos responder sem fraquejar.

Esse discurso não vinha sendo ouvido?

Apontamos, há anos, a inconsequência das políticas implementadas pela esquerda e pela direita com relação à imigração e ao isolamento em comunidades que alimentam o fundamentalismo islâmico. Denunciamos a perda da soberania de nossas fronteiras, a permissividade do Judiciário e a irresponsabilidade de nossa política externa, que se alia a ditaduras islâmicas como o Qatar ou a Arábia Saudita e arma terroristas na Líbia e na Síria. É evidente que os governos se mostraram, no mínimo, autistas diante de nossos alertas.

Qual o impacto do episódio na opinião pública?

Os franceses, a partir das manifestações espontâneas que emergiram após o atentado, tomaram consciência dessa declaração de guerra.

A unidade nacional é indispensável, assim como nossa determinação de não sucumbir ao medo e à intimidação. Diante do terrorismo islâmico, temos que nos defender com todos os meios possíveis. Acredito que nossos compatriotas entendem isso.

Na sua opinião, que tipo de resposta seria desejável?

Para enfrentar o fundamentalismo islâmico, devemos agir como uma República independente, fiel aos seus valores e determinada a impor o respeito às leis.

O Estado deve mostrar determinação neste combate vital por meio da interrupção da imigração que alimenta o isolamento em comunidades, do controle de nossas fronteiras, do confisco sistemático da nacionalidade francesa aos candidatos à jihad [guerra santa], com leis mais duras contra o terrorismo, fortalecimento da polícia e dos serviços secretos, expulsão dos imãs [sacerdotes islâmicos] radicais que promovem a raiva e ruptura das relações diplomáticas com países que apoiam os fundamentalistas.


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