Folha de S. Paulo


Filho de brasileiros libertado por guerrilheiros continuará no Paraguai

"Para onde nós vamos? Tenho uma dívida de US$ 700 mil para pagar. Peguei emprestado e tenho que pagar tudo em cinco anos", afirmou o pai, Alcido Fick, 53.

De acordo com ele, além dos US$ 500 mil entregues aos sequestradores para libertação do filho, a família havia tomado US$ 200 mil em financiamento para adquirir equipamento agrícola.

O rapaz foi sequestrado em abril pelo EPP (Exército do Povo Paraguaio), guerrilha marxista considerada terrorista pelo governo paraguaio. Foi solto no dia de Natal.

AFP
Brasileiro Arlan Fick (esq.) entrega ceta de Natal para moradora de Nueva Fortuna, Paraguai
Brasileiro Arlan Fick (esq.) entrega ceta de Natal para moradora de Nueva Fortuna, Paraguai

A família do estudante Arlan Fick, jovem de 17 anos que ficou em poder de guerrilheiros por quase nove meses, diz que não pretende deixar a região de Paso Tuyá, onde moram no Paraguai.

A propriedade dos Fick, de 140 hectares, produz soja e milho e se destaca por um grande silo. A região tem outras famílias de brasileiros, todos dedicados à agricultura, mas, segundo os moradores, o número delas vem se reduzindo ao longo dos anos em razão dos conflitos.

A colônia onde os Fick moram se destaca em uma região muito pobre. É quase um oásis cercado por casas simples de madeira, de chão batido, espalhadas ao longo de uma precária estrada de terra. Por Horqueta, cidade mais próxima de Paso Tuyá, são mais de 50 km de terra.

Em algumas partes, o chão é coberto com pedras pretas, como paralelepípedos mal instalados. No caminho, é possível ver índios em mendicância à beira da estrada e também homens do Exército paraguaio. Há algumas bases espalhadas, com veículos blindados e barricadas com sacos de areia.

A família Fick chegou à região de Paso, em 1º setembro de 1982, atraídos pelos baixos preços das terras, pela proximidade de alguns parentes já instalados e, também, pela colônia alemã (menomitas) e suas festas famosas. Os moradores do povoado realizaram neste ano sua 6ª Oktoberfest, que, dizem, em razão do sequestro de Arlan, não foi tão boa quanto nos outros anos.

BRAD

Desde a volta de Arlan, a casa dos Fick vive cheia de parentes e amigos. Viraram celebridade na região.

O estudante de 17 anos ganhou uma música na internet, que o autor mostrou a ele na tarde deste sábado (28).

Naquele mesmo dia, Arlan e a família participaram da distribuição de cem cestas básicas. Uma das promessas a que se comprometeu pagar com alguns dos santos a que pediu ajuda.

Um dia antes, houve missa na casa com a presença de um bispo e centenas de pessoas. "Só de carro contei 52", disse Arlan. Também houve uma carreata pela região.

Bem humorado, Arlan diz que a única coisa boa da história é ter ficado famoso e mais bonito para as meninas. "Agora sou o Brad Pitt", diz.


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