Folha de S. Paulo


Retrospectiva: Guerra Fria ressurge dos livros de história

The New York Times
Mulher vestida com a bandeira americana em Havana, capital de Cuba
Mulher vestida com a bandeira americana em Havana, capital de Cuba

Em 2014, a Guerra Fria ressurgiu dos livros de história e invadiu o noticiário. As investidas do presidente russo Vladimir Putin sobre o leste da Ucrânia, incluindo a anexação da península da Crimeia, levaram à pior relação com o Ocidente em décadas e suscitaram a comparação inevitável com o período em que o mundo ficou dividido entre EUA e União Soviética.

No início de novembro, a Guerra Fria voltou, não para ser temida como fantasma, mas festejada como relíquia. Em Berlim, milhares lembraram os 25 anos da queda do muro que dividia a cidade, e que foi o símbolo maior da polarização entre capitalismo e comunismo no século 20.

E o fim do ano trouxe a notícia mais surpreendente de 2014, a reaproximação diplomática entre EUA e Cuba, após 53 anos. A libertação de espiões e a abertura de embaixadas encerrou um dos últimos apêndices daquele confronto ideológico, apesar de o embargo comercial contra a ilha ainda estar de pé.

Com os acenos de Raúl e Fidel Castro a Obama, coube à Coreia do Norte o papel de último bastião do comunismo à moda antiga. No dia do acordo entre Cuba e EUA, a ditadura norte-coreana conseguiu ameaçar o lançamento de um filme de Hollywood que fazia piada com a morte de seu líder, Kim Jong-un.

A ameaça de provocar um novo 11 de Setembro, desta vez com a ajuda de hackers, foi levada a sério pelo estúdio Sony, embora, no geral, os norte-coreanos tenham provocado mais risadas que pânico.

O terrorismo que realmente meteu medo foi o do Estado Islâmico, prova de que há tempos o comunismo deu lugar ao fundamentalismo como maior ameaça à paz global.

O EI tomou de assalto o noticiário no meio do ano, ao se descolar da decadente rede Al Qaeda e decretar a fundação de seu próprio "país", reunindo vastas áreas pertencentes à Síria e ao Iraque.

O mundo assistiu ao surgimento de um simulacro de nação independente, com estrutura de comunicação profissional, recrutamento de efetivo militar entre a juventude europeia, projeto de uma moeda própria e o uso eficaz de uma estratégia aterrorizante: decapitações em doses homeopáticas de reféns ocidentais, documentadas em vídeo.

O ano de 2015 se aproxima com o cenário de uma nova guerra começando no Oriente Médio, e com os EUA sendo mais uma vez atraídos para uma região da qual há tempos tentam se distanciar –e nunca conseguem.


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