Folha de S. Paulo


Epidemia de ebola completa um ano e pode durar mais um, diz especialista

A epidemia de ebola na África Ocidental que matou sua primeira vítima há um ano deve durar até o fim de 2015, segundo o cientista que ajudou a descobrir o vírus.

Emile Ouamouno, 2, morreu na vila de Meliandou, no sul da Guiné, em 28 de dezembro, depois de apresentar febre, dor de cabeça e diarreia.

Sua irmã de três anos, sua mãe e sua avó morreram dias depois.

As mortes não foram noticiadas, e a doença se espalhava sem ser detectada, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).

Baz Ratner - 21.dez.2014/Reuters
Homens com uniforme especial carregam corpo de pessoa infectada com ebola, em Serra Leoa
Homens com uniforme especial carregam corpo de pessoa infectada com ebola, em Serra Leoa

Apenas em março as autoridades de saúde da Guiné perceberam que algo perturbador estava acontecendo.

O vírus do ebola nunca havia aparecido no oeste da África. Foi preciso tempo para reconhecer o início do que seria a maior epidemia já registrada –com mais de 7.500 mortos e 19.500 infectados na Guiné, Libéria e Serra Leoa.

Em agosto, a OMS declarou a epidemia uma "emergência de saúde pública de preocupação internacional".

Peter Piot, diretor da Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres e um dos cientistas que descobriram o vírus ebola em 1976, disse que houve progresso em impedir o avanço da doença, mas que levará tempo até desenvolver vacinas.

"A epidemia do ebola ainda está muito presente. Ainda há gente que morre, novos casos são detectados. Devemos estar preparados para um esforço longo e sustentado, provavelmente durante todo o ano de 2015", disse à BBC.

A febre hemorrágica, que causa vômito, diarreia e hemorragia, é espalhada pelo contato com líquidos corporais contaminados e não tem cura.

Cientistas que estudam o ebola desde que foi descoberto no Zaire (atual República Democrática do Congo), em 1976, suspeitam que morcegos sejam os hospedeiros naturais do vírus.

TRATAMENTO

Tratamentos simples, como fluidos intravenosos e antibióticos, conseguiram reduzir a taxa de mortalidade em Serra Leoa para um em cada três casos –em vez de 70%, como anteriormente, explica Piot.

O cientista, que acaba de retornar de Serra Leoa, diz que o vírus atingiu seu ápice na Libéria, onde matou 3.376 pessoas, de acordo com dados da OMS.

"Centros de tratamento já foram estabelecidos em todo o país com a ajuda britânica. Você não vê mais cenas de pessoas morrendo nas ruas", disse Piot sobre Serra Leoa.

Piot disse ainda que o desenvolvimento de uma vacina era essencial para usá-la em uma próxima epidemia ou caso esta se prolongue por mais tempo.

Esta semana, o Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos EUA concedeu contratos a NewLink Genetics Corp e a GlaxoSmithKline Plc para um desenvolvimento mais rápido das vacinas.


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