Folha de S. Paulo


Na Venezuela, Nicolás Maduro faz raros elogios a Barack Obama

O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, se disse nesta quarta-feira "muito feliz" com a normalização dos laços entre EUA e Cuba e fez raros elogios ao colega Barack Obama.

"É preciso reconhecer o gesto de valentia de Obama. Ele deu talvez o passo mais importante de sua Presidência", disse Maduro na Cúpula do Mercosul, na Argentina.

O presidente socialista afirmou que se trata de uma "vitória do povo cubano."

A reaproximação EUA-Cuba, porém, é amplamente vista como sinal de que o governo cubano busca alternativa aos laços viscerais construídos com a Venezuela nos últimos 15 anos.

Além da simbiose ideológica, consolidada sob a Presidência do venezuelano Hugo Chávez (1999-2013), os dois países latinos têm pacto estratégico pelo qual Caracas manda 100 mil barris de petróleo diários a Havana e recebe em troca milhares de médicos comunitários e assessores militares.

Mas a degringolada dos preços petroleiros, que se soma à grave crise econômica na Venezuela, pressiona Maduro a reduzir ajuda e cortar investimento em países aliados.

"Cuba quer amortecer o impacto que pode significar a perda da Venezuela. Os cubanos não querem ficar na mão como ficaram após o colapso da União Soviética", diz o analista Milos Alcalay, embaixador de Caracas na ONU até 2004.

A oposição venezuelana afirma que o pragmatismo cubano expõe os supostos erros políticos e econômicos de Maduro. "Até mesmo Cuba mostrou que é preciso sair do ranço da Guerra Fria", diz o deputado opositor Julio Montoya.

CONTRAMÃO

Na contramão de Cuba, laços entre Caracas e Washington continuam se deteriorando, apesar de os EUA ainda serem maiores compradores do petróleo venezuelano.

Na segunda-feira, Maduro comandou protesto em Caracas contra o "imperialismo" americano. A marcha era resposta a sanções contra autoridades venezuelanas aprovadas pelo Congresso americano e que esperam assinatura de Obama.

As medidas pretendem retaliar a repressão a protestos que deixaram 43 mortos no início deste ano.

EUA e Venezuela não têm embaixadores em suas respectivas capitais desde 2010. Caracas acusa Washington de tentar repetir 2002, quando os EUA apoiaram um fracassado golpe contra Chávez.

"Sempre buscamos boas relações com os EUA, mas há gente em Washington que se opõe a isso", disse à Folha um ex-cônsul-geral do governo Chávez nos EUA. "Tomara que agora os EUA entendam que é possível se entender com países que têm outra maneira de ver o mundo."


Endereço da página: