Folha de S. Paulo


Análise: Aproximação dos EUA pode acabar com regime comunista de Cuba

O restabelecimento das relações entre EUA e Cuba é uma excelente notícia para o povo cubano, para as famílias que fugiram dos anos da ditadura castrista e para o hemisfério em geral.

O isolamento de Cuba era uma entulho da Guerra Fria, e sua provável remoção tem tudo para levar ao fim do seu irmão siamês, o regime comunista que manda na ilha desde pouco depois da revolução de 1959.

Claro que tudo isso depende de um processo provavelmente longo, que envolve fazer a gestão Obama enfrentar um Congresso hostil para remover o embargo econômico, o principal instrumento da disputa que remonta ao começo dos anos 60 —o turbulento tempo da invasão fracassada promovida pela CIA, da entrega de Havana a Moscou e da crise dos mísseis que quase levou o mundo a uma guerra nuclear.

Para a ditadura dos irmãos Castro, a mudança ideal envolveria transformar a ilha em uma espécie de China do Caribe, em que capitalismo de Estado convive com centralismo político.

Esse era o plano de Raúl ao assumir o lugar de Fidel, segundo disse no fim de 2007 à Folha o general aposentado Nikolai Leonov.

Ex-número 2 da KGB (serviço secreto soviético), Leonov conheceu em 1953 Raúl e o introduziu, assim como o resto da cúpula da revolução de 1959, ao Kremlin. Falava com propriedade sobre os planos do amigo.

O questão é que a China é um universo fechado em si, o proverbial Império do Meio, e a segunda economia do mundo, cujas necessidades e ritmos ditam vida e morte no mundo emergente e fora dele.

Consegue exportar "soft power" (poder a partir de influência cultural) e tem ampla influência nos mercados.

Cuba tem um arremedo de sistema econômico, disfuncional, e parece improvável que o regime sobreviva a uma verdadeira invasão do capitalismo a pouco mais de 100 km dali. Como na queda do Muro de Berlim, em 1989, pode haver uma desintegração natural do sistema. A ver.

Se acontecer, significa que o país voltará a ser o cassino de americanos dos tempos de Fulgencio Batista, o ditador caricato que antecedeu a revolução? Improvável, por questões políticas óbvias: aquela ditadura é tão inaceitável hoje quanto a dos Castro.

Ao fim, o dia de hoje parece trazer de fato aquilo que a história chama de boa notícia, a depender ainda de muitos desenvolvimentos, embora quase que certamente não pelo motivo que os "rede-socialistas" do Facebook estão celebrando ("derrota dos EUA", "Obama herói", "PT visionário" e afins).


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