Folha de S. Paulo


Tragédias no país evidenciam a existência de dois Méxicos

Não é a primeira vez que uma tragédia surge no México para dissolver a esperança de um bom momento econômico do país.

Em 1968, os mexicanos viviam uma época chamada de "milagre", com um crescimento médio de 5% e otimismo em alta com a perspectiva de hospedar a Olimpíada, realizada naquele ano.

Um protesto estudantil inspirado no Maio de 68 francês, porém, foi reprimido com violência pelo governo de Díaz Ordaz (PRI), deixando um total de cerca de 300 mortos.

Em 1994, o México também vinha crescendo, e a entrada em vigor do Tratado de Livre Comércio da América do Norte (com Canadá e Estados Unidos) levava o país a acreditar estar entrando no Primeiro Mundo.

O banho de água fria surgiu na forma de um imenso levante num dos Estados mais pobres do país. Em Chiapas, o EZLN (Exército Zapatista de Liberação Nacional) evocava a Revolução Mexicana de 1910 para reivindicar terra e direitos sociais.

Em março do mesmo ano, o candidato presidencial do PRI, Luis Donaldo Colosio, foi assassinado em plena campanha, em circunstâncias até hoje não completamente esclarecidas.

A tragédia de Ayotzinapa, que ocorre no começo de um ciclo que se considerava promissor para o México, confirma a existência de duas realidades antagônicas que convivem no país.

Por um lado, uma economia de imenso potencial, que pode ser vista nos polos de industrialização avançados de Querétaro e Guanajuato.

Por outro, a existência de um país que opera pela lógica do crime organizado, na qual imperam a extorsão, o sequestro e a pistolagem. Nesse país, as administrações locais estão corrompidas, e as federais têm dificuldades para entrar.

Conciliar esses dois países significa tratar de temas espinhosos, como a legalização das drogas, a corrupção regional e a fragilização institucional em certas esferas.

Em seus próximos dois terços de mandato –que termina em 2018–, esse será o grande desafio de Peña Nieto.


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