Folha de S. Paulo


Em situação similar à Ucrânia, Moldova elege maioria pró-Europa

Os partidos pró-europeus de Moldova pareciam na segunda-feira estar certos de conseguir formar uma nova coalizão para levar adiante uma aproximação com a Europa após as eleições, apesar de o partido mais votado ter sido o Socialista, que é pró-Moscou.

Com quase todos os votos da eleição do domingo (30) já contados, as autoridades eleitorais disseram que o partido Liberal Democrata, o Liberal e o Democrático obtiveram um total conjunto de 44% dos votos, o suficiente para lhes garantir uma maioria simples no Parlamento, de 101 cadeiras, e formar um novo governo.

Mas a performance forte dos socialistas, que defendem que o país ingresse num bloco econômico liderado pela Rússia, ao invés da aproximação com a União Europeia, tirou o brilho da festa do lobby pró-europeu.

Gleb Garanich - 1.dez.2014/Reuters
Estudantes participam de marcha pela reunificação da Moldova com a Romênia em Chisinau
Estudantes participam de marcha pela reunificação da Moldova com a Romênia em Chisinau

O líder socialista Igor Dodon disse que seu partido formará uma oposição "que fará os integracionistas europeus tremer nas bases".

O primeiro lugar conquistado pelos socialistas, com 21,5% dos votos, deixou claro que muitos cidadãos de um dos países menores e mais pobres da Europa são favoráveis à manutenção dos tradicionais vínculos estreitos com a Rússia.

"A boa notícia principal é que Moldova vai levar adiante seu avanço em direção à Europa", disse em coletiva de imprensa o ex-presidente do Parlamento Marian Lupu, líder do Partido Democrático e uma das figuras principais da coalizão de três partidos que governa o país desde 2009.

"O desejo da população de viver em paz e integrar-se com a União Europeia é um dado fundamental a ser levado em conta nas negociações para a formação de uma nova coalizão", ele disse.

Monitores da Organização para a Segurança e a Cooperação na Europa (OSCE) disseram que a eleição foi bem conduzida, mas criticaram o fato de um partido comandado pelo empresário russo Renato Usatii ter sido impedido de participar, sob o argumento de que seria financiado desde o exterior.

"Uma eleição bem conduzida e com participação ampla ofereceu aos eleitores a oportunidade de escolher seus candidatos e até suas aspirações geopolíticas, que estiveram à base da campanha", disse Emin Önen, líder da missão de observadores da OSCE.

País de 3,5 milhões de habitantes situado entre a Ucrânia e a Romênia, Moldova ratificou em junho um acordo político e comercial com a UE. A iniciativa indica a rejeição de um futuro dentro da União Alfandegária liderada pela Rússia, opção advogada pelos socialistas.

RÚSSIA PROÍBE IMPORTAÇÕES

Os eleitores moldávios foram às urnas conscientes da guerra separatista na Ucrânia, desencadeada pelo fato de Kiev ter aderido a políticas pró-Europa semelhantes, que puseram o país em rota de colisão com Moscou.

Embora Moscou até agora não tenha demonstrado disposição de intervir, como fez na Ucrânia, a Rússia mostrou sua insatisfação com Moldova, proibindo a importação de vinhos, vegetais e carne do país, cuja economia depende das exportações agrícolas.

O ex-primeiro-ministro Vlad Filat, que lidera os democratas liberais na coalizão, qualificou os resultados fortes dos socialistas no pleito como "um espetáculo dirigido para o palco, o resultado de Vladimir Putin".

As próximas semanas serão dominadas por negociações entre os partidos, quase certamente envolvendo os comunistas, que ficaram em terceiro lugar. É possível que o novo governo não seja formado antes do fim do ano.

Além das disputas internas entre seus líderes, o histórico fraco da coalizão no combate à corrupção e na realização de reformas profundas parece ter lhe custado votos.

As relações entre Filat e o ex-presidente Interno Mihai Gjimpu, líder do Partido Liberal, não são boas, e é provável que criem tensões em qualquer coalizão que venha a ser formada.

Na coletiva de imprensa, Filat defendeu a atuação da coalizão e disse que já teve discussões iniciais com Lupu para a formação de uma nova coalizão.

"Saímos da eleição com quatro ou cinco vagas a menos. Mas, considerando que governamos o país por cinco anos enquanto uma guerra estava em curso no leste da Ucrânia, além de uma crise global e um embargo russo, não nos saímos mal", ele disse.

Tradução de CLARA ALLAIN


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