Folha de S. Paulo


Candidato da oposição à Presidência para de crescer no Uruguai

No começo da campanha eleitoral, quando as pesquisas apontavam a possibilidade de empate técnico, Luis Lacalle Pou, 41, provocou os líderes da Frente Ampla, partido de esquerda do atual presidente José Mujica.

Fazendo piruetas num poste durante um evento de campanha em Soriano, no oeste do país, em agosto, o candidato do Partido Nacional (blanco, de centro-direita) vangloriava-se da sua "juventude" e convocava Mujica, 79, e seu adversário Tabaré Vázquez, 74, a formarem um "conselho de anciãos".

A três dias do segundo turno, Lacalle Pou acusa a Frente Ampla de usar a "máquina do Estado" contra ele, que está num distante segundo lugar nas intenções de voto.

Pesquisa divulgada na terça (25) pelo instituto Factum diz que Vázquez deve ganhar por 52% a 37%. Outros institutos revelam números parecidos, com a diferença variando entre dez e onze pontos.

"Nenhum de nós pensou que Mujica fosse fazer campanha. A Constituição o inibe, acredita-se que ele seja o presidente de todos os uruguaios", disse o candidato.

Lacalle Pou sentiu-se especialmente ofendido por uma propaganda da Frente Ampla que o chamava de "pituco" [que significa "mauricinho", "burguês]. Nela, uma mulher de classe alta reclama, ao celular, de problemas com a empregada doméstica.

"Isso demonstra um ressentimento e causa divisão, por acaso é um problema nascer num bairro rico?", disse o opositor, que devolveu a crítica para o ex-presidente.

"Tabaré Vázquez é um homem rico, um médico renomado, que tem o monopólio do câncer no Uruguai."

Depois das declarações, o presidente José Mujica admitiu os excessos da propaganda eleitoral da Frente Ampla para a eleição presidencial e pediu desculpas à população e ao adversário.

"Em nome do povo peço desculpas. Às vezes nos excedemos na linguagem no calor do momento. Eu sou amigo de todos, os de cima, os de baixo e os do meio."

Na campanha, o advogado Luis Lacalle Pou, que é filho do ex-presidente Luis Lacalle Herrera (1990-1995), apostou na ideia da renovação.

Seu slogan, "por la positiva", era repetido em jingles com gente jovem e com amplo uso das redes sociais. A estratégia funcionou no início, e o candidato chegou a beirar os 40% dos votos.

Após o primeiro turno, porém, os apoios esperados não vieram. Apesar da aliança com o direitista Partido Colorado, que havia obtido 13% dos votos para a Presidência uruguaia, ele não deslanchou.

Editoria de arte/Folhapress

Já Vázquez centrou sua campanha nos avanços dos dez anos da Frente Ampla no poder, especialmente na queda do índice de pobreza de 39% para 11%, e em seu carisma pessoal. Privilegiou os discursos, nos quais se sai muito bem, e não participou de debates com o rival.

Apesar das diferenças com relação à política e à economia, José Mujica apoiou o seu antecessor.

Para o candidato blanco, a fama internacional do atual presidente é a resposta do sucesso de Vázquez, mas diz que seus eleitores não devem se iludir com relação à defesa que a Frente Ampla faz dos valores republicanos.

"O que há é uma vontade muito forte deles de ficarem no poder, e não de usá-lo para que as pessoas vivam melhor", disse Lacalle Pou.


Endereço da página: