Folha de S. Paulo


Ferguson tem manifestações violentas após decisão judicial a favor de policial

A decisão de um grande júri dos Estados Unidos nesta segunda-feira (24) de não indiciar Darren Wilson, o policial branco que matou o jovem negro Michael Brown em agosto, causou imediatamente violentos distúrbios em Ferguson, no Missouri, onde ocorreu o caso, enquanto houve manifestações pacíficas nas grandes cidades do país.

Veículos depredados e incendiados, saques e sons de tiros foram registrados na avenida West Florissant e seus arredores, em Ferguson, após o anúncio da decisão judicial. Ao menos 12 prédios foram incendiados e 61 pessoas foram presas em Ferguson, enquanto outras 21 foram presas em Saint Louis.

A polícia de Ferguson foi alvo de tiros de manifestantes, informou o chefe de polícia de St. Louis. Jon Belmar, disse também ter ouvido pessoalmente cerca de 150 disparos durante a noite de protestos, saques e confrontos entre manifestantes e a polícia.

Logo após o anúncio, por volta das 2h (0h de Brasília), manifestantes passaram a atirar objetos contra os policiais, aos gritos de "sem justiça não há paz". Os agentes reagiram lançando bombas de gás lacrimogêneo para dispersar a multidão, segundo constatou a AFP.

Os manifestantes também denunciaram o uso de gás lacrimogêneo, mas a polícia do condado de Saint Louis garantiu, através do Twitter, que só utiliza "fumaça" para dispersar as pessoas.

A cidade de Ferguson, situada nos arredores de Saint Louis, está em alerta máximo. Por causa dos episódios de violência, o governador do Missouri, Jay Nixon, ordenou o enviou de mais integrantes da Guarda Nacional para Ferguson.

O órgão responsável pela aviação nos EUA emitiu uma restrição temporária de voos para Ferguson na noite de segunda.

Apesar de não haver relatos de ferimentos graves, o chefe de polícia disse que os distúrbios de segunda-feira à noite e madrugada de terça foram "muito piores" do que as manifestações que ocorreram logo após a morte de Michael Brown, em 9 de agosto.

Os protestos não acontecem apenas em Ferguson, mas se estendem por Nova York, Chicago, Los Angeles, Washington D.C., Oakland e outras grandes cidades do país.

Também nesta segunda, um policial foi ferido por um tiro em University City, um subúrbio de Saint Louis próximo a Ferguson, mas não se sabe se o caso está relacionado à decisão do júri.

DECEPÇÃO

"Estamos profundamente decepcionados de que o assassino do nosso filho não tenha que sofrer as consequências de seus atos", declarou a família de Brown.

No entanto, pediu que os manifestantes evitassem os distúrbios, ao afirmar na nota que "responder a violência com violência não é a resposta".

O presidente Barack Obama fez um apelo à calma em Ferguson: "Somos uma nação baseada no respeito à lei".

Obama destacou que todos os protestos devem ocorrer de "maneira pacífica", lembrando que os familiares de Brown rejeitaram qualquer ato de violência.

O CASO

As manifestações começaram logo depois da divulgação da notícia que Wilson, 28, o policial branco que matou Brown, 18, continuará livre e não será indiciado. Para o grande júri, não há provas suficientes para indiciá-lo.

Após ouvir a versão de 60 testemunhas, o grande júri decidiu que não existe "causa provável" para acusar o agente. No dia 9 de agosto, Brown, que estava desarmado, foi baleado seis vezes por Wilson, em circunstâncias que ainda não foram esclarecidas.

A polêmica morte reavivou as tensões raciais e provocou manifestações que muitas vezes terminaram em distúrbios. Quase 70% da população de Ferguson é negra, mas as autoridades políticas e policiais são majoritariamente brancas.

Editoria de Arte/Folhapress


Endereço da página:

Links no texto: