Folha de S. Paulo


Líderes mórmons admitem poligamia de fundador da igreja

Pela primeira vez em quase dois séculos desde a criação da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, líderes mórmons admitiram que seu fundador e profeta, Joseph Smith, teve até 40 mulheres.

Sempre retratado oficialmente como o fiel marido de Emma Hale, Smith teria mantido relacionamentos com mulheres já casadas e até com uma jovem de 14 anos, segundo documentos divulgados na internet pela própria igreja mórmon. As revelações fazem parte de um esforço da instituição em tornar sua história mais transparente.

Apesar de o "princípio do casamento plural" ter sido estabelecido pelo próprio Smith um ano após sua morte, e de seu sucessor, Brigham Young, e outros líderes mórmons serem abertamente polígamos, o caso de Smith sempre foi uma espécie de "tabu".

Segundo os documentos divulgados, a maioria das mulheres de Smith tinham "entre 20 e 40 anos" e algumas delas já eram, inclusive, casadas com amigos e seguidores do fundador da igreja mórmon.

O "princípio do casamento plural" estabelece que a poligamia foi recomendada por Deus, revelada a Smith e aceita por ele e seus seguidores. Abraão e outros patriarcas do Antigo Testamento também tinham muitas mulheres, e Smith pregava que sua igreja é uma "restauração" da primeira e verdadeira igreja cristã.

Para alguns mórmons, a revelação foi chocante. "Essa não foi a igreja na qual eu cresci, esse não é o Joseph Smith que eu amo", disse Emily Jensen, uma blogueira de Farmington, Utah, que escreve sobre temas mórmons, ao "New York Times".

Segundo ela, muitos fiéis passaram primeiro pela fase da "negação", e, agora, estão na fase da "raiva". "Joseph Smith foi me apresentado como um profeta praticamente perfeito, e isso é uma verdade para muitas pessoas."

No entanto, para Richard L. Bushman, professor de história da Universidade Columbia e autor de uma biografia sobre Smith, o reconhecimento da poligamia do fundador pela igreja mórmon hoje é um sinal de "maturidade". "Em algum momento, eles decidiram que contariam a história toda: não para ser defensivos, nem para tentar esconder algo", disse Bushman.


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