Folha de S. Paulo


Premiê israelense sofre pressão entre coalizão e aliados externos

O primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu, se esforça para conservar a coesão de sua coalizão enquanto crescem as discussões sobre a possibilidade de eleições antecipadas.

Tentando fortalecer-se internamente, porém, ele corre o risco de distanciar-se mais de seus aliados internacionais.

Para satisfazer os partidos de extrema direita presentes em seu governo, Netanyahu prometeu ampliar os assentamentos israelenses em terras que os palestinos querem para fazer parte de um Estado independente.

Com isso, o premiê desagrada seriamente aos EUA e a União Europeia.

E, num esforço para aplacar os ultranacionalistas, Netanyahu não denunciou os chamados deles para que judeus possam orar no local mais sagrado de Jerusalém, embora tenha dito que a proibição que vigora há décadas não será mudada.

Esse enfoque cauteloso prejudicou os laços de Israel com a Jordânia, responsável por cuidar do local sagrado -conhecido pelos muçulmanos como Nobre Santuário e pelos judeus como Monte do Templo–, levando Amã a retirar seu embaixador de Israel pela primeira vez desde o tratado de paz assinado em 1994.

E alimentou a pior violência vista em Jerusalém em dez anos, com tumultos diários no lado oriental da cidade, de maioria árabe, enquanto se fala em um novo levante palestino.

"Para quem está de fora, é difícil entender por que Netanyahu está fazendo tudo isso", diz um embaixador europeu, expressando frustração com o que vê como a teimosia do primeiro-ministro.

"Em última análise, é eleitoral. Netanyahu quer se manter no poder e está apostando nisso."

Não há eleições previstas formalmente até 2017. Mas, devido aos atritos crescentes na coalizão e os desentendimentos no interior do próprio partido de Netanyahu, o Likud, os mais sagazes estão apostando que será convocada uma eleição antecipada, provavelmente para dentro de seis meses.

Isso sugere que os próximos seis meses podem ser um período turbulento, com Netanyahu se esforçando para conservar a adesão de seus parceiros na coalizão, cada vez mais exigentes, mesmo que para isso seja preciso lhes oferecer atrativos que causam alarme aos palestinos e aos aliados internacionais de Israel.

A dúvida é se Netanyahu, o primeiro-ministro israelense há mais tempo no poder desde o primeiro, David Ben-Gurion, vai conseguir controlar o mal-estar crescente que sua abordagem política parece estar causando, ou se os acontecimentos podem acabar saindo de seu controle.

Depois de a Suécia ter se tornado no mês passado o primeiro grande país ocidental a reconhecer a Palestina como Estado independente, qualquer erro de cálculo pode oferecer a outros países europeus justificativas para seguir o exemplo dela.

Ao mesmo tempo, o premiê israelense está tendo que enfrentar uma crise crescente de segurança, com violência que se intensifica.

Na segunda-feira um soldado israelense foi esfaqueado por um palestino em Tel Aviv, recebendo ferimentos críticos e ampliando o alcance da violência recente, que até então se limitava em grande medida a Jerusalém, onde quatro pessoas já foram mortas.

O quadro se complicou ainda mais quando a polícia israelense matou um árabe israelense, gerando o risco, mesmo que remoto, de que a minoria árabe que forma 20% da população de Israel se una aos palestinos da Cisjordânia, Faixa de Gaza e Jerusalém oriental num levante mais generalizado contra Israel.

E por trás de tudo isso está a ausência de qualquer negociação de paz com os palestinos. A última rodada de conversações foi suspensa em abril, após meses de sessões em grande medida infrutíferas.

Desde então as relações entre Netanyahu e o presidente palestino, Mahmoud Abbas, pioraram muito. O líder israelense acusou Abbas de incitar a violência recente com um chamado aos muçulmanos para defenderem o Nobre Santuário "usando de todos os meios possíveis".

Alguns meses apenas atrás, Netanyahu falou de um "novo horizonte" no Oriente Médio, dizendo que a ameaça do Estado Islâmico levou países como Arábia Saudita, Jordânia e Egito a compartilhar com Israel o interesse em derrotar o extremismo islâmico.

Agora, porém, com a Jordânia tendo retirado seu embaixador e o Egito reagido mal aos acontecimentos no Nobre Santuário, que contém a mesquita de Al Aqsa e o Domo da Rocha, esse novo horizonte está começando a parecer distante e anuviado.

Tradução de CLARA ALLAIN


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