Folha de S. Paulo


Líderes do Japão e da China se reúnem pela primeira vez em dois anos

Um constrangido aperto de mãos entre o líder da China, Xi Jinping, e o primeiro-ministro do Japão, Shinzo Abe, quebrou o gelo entre os dois países após meses de tensão.

O encontro desta segunda (10) em Pequim foi o primeiro desde que os dois assumiram seus cargos, há dois anos. Nesse período, a disputa em torno de um grupo de ilhas desabitadas no mar do Leste da China afundou as relações bilaterais ao ponto mais baixo em décadas, criando temores de um confronto militar.

O desconforto dos líderes estava estampado em suas fisionomias quando Xi recebeu Abe no Grande Palácio do Povo, palco principal do protocolo chinês. Durante o aperto de mão, Abe diz algumas palavras a Xi, que, com semblante fechado, vira o rosto sem responder.

Na conversa de 30 minutos, Abe propôs a criação de um "mecanismo de comunicação marítimo" para evitar incidentes na disputa em torno das ilhas, chamadas de Diaoyu pelos chineses e Senkaku pelos japoneses.

Embora as diferenças permaneçam, o premiê japonês disse que o encontro foi um "primeiro passo" para a reaproximação.

"Não apenas nossos vizinhos asiáticos, mas muitos outros países há muito esperavam que Japão e China dialogassem", disse Abe a repórteres japoneses. "Finalmente cumprimos as expectativas e demos o primeiro passo para melhorar as relações."

Segundo a agência de notícias oficial chinesa Xinhua, Xi exortou o Japão "a fazer mais para aumentar a confiança mútua".

Na sexta-feira (7), os dois países haviam dado o primeiro sinal de distensão, num comunicado em que se comprometem a evitar ações que piorem a situação. Na conversa desta segunda, de acordo com a imprensa japonesa, as ilhas em disputa não foram mencionadas.

Abe está em Pequim para a cúpula da Apec (Cooperação Econômica Ásia-Pacífico), que teve início nesta segunda (10) com a presença dos mandatários das 21 economias do bloco. O evento ressalta a ambição da China de ampliar sua influência regional, com uma série de iniciativas que desafiam a proeminência dos EUA.

Uma delas foi o acordo preliminar de livre comércio com a Coreia do Sul, assinado nesta segunda e considerada uma vitória para Pequim. O comércio bilateral da Coreia do Sul com a China chegou a US$ 230 bilhões (R$ 584 bilhões) no ano passado, mais que o dobro do registrado com os EUA.

Outra iniciativa chinesa para aprofundar seus laços com os vizinhos foi o anúncio feito por Xi Jinping, no domingo, de um fundo de US$ 40 bilhões (R$ 102 bilhões) para a "nova Rota da Seda". O objetivo é financiar projetos de infraestrutura, principalmente na Ásia Central, dentro do plano de Pequim de ressuscitar a histórica Rota da Seda, que na antiguidade serviu como fluxo de bens entre a China e o Mediterrâneo.

No domingo (9), a China assinou um acordo para criar uma nova rota de suprimento de gás da Rússia, que busca novos mercados devido às sanções econômicas que sofre desde que anexou a Crimeia. Em maio, Pequim e Moscou assinaram um acordo de suprimento estimado em US$ 400 bilhões.

A China esperava avançar na criação da Área de Livre Comércio da Ásia-Pacífico (Alcap), mas a oposição dos EUA freou a iniciativa. Pequim só conseguiu a aprovação de um estudo sobre a viabilidade do projeto.

O governo americano, por sua vez, quer acelerar sua própria iniciativa comercial, a Parceria Transpacífico (TPP, na sigla inglês), que é negociada por 12 países, mas não a China.

Num discurso em Pequim, pouco antes da abertura da cúpula, o presidente dos EUA, Barack Obama, buscou um tom apaziguador com a China, ressaltando o potencial de cooperação entre as duas maiores economias do mundo. Mas também tocou em alguns pontos de divergência, afirmando que espera que a China respeite a propriedade intelectual e os direitos humanos.


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