Folha de S. Paulo


Supostos membros de cartel dizem ter matado estudantes no México

O procurador-geral da República mexicano, Jesús Murillo Karam, disse nesta sexta (7) que três homens confessaram ter matado e queimado os corpos dos 43 alunos desaparecidos da escola normal rural de Ayotzinapa.

Os estudantes sumiram em 26 de setembro depois de uma arrecadação de fundos para a escola em Iguala (a 192 km da Cidade do México).

Daniel Becerril/Reuters
Pais dos alunos da escola de Ayotzinapa, no México, deixam reunião com procurador-geral
Pais dos alunos da escola de Ayotzinapa, no México, deixam reunião com procurador-geral

Na saída da cidade, os dois ônibus que levavam cerca de 70 alunos de volta para a escola foram alvejados por policiais da cidade e traficantes do cartel Guerreros Unidos. Na ação, seis pessoas morreram, 25 ficaram feridas.

Segundo Murillo Karam, os confessores se chamam Particio Reyes, Jonathan Osorio e Agustín García Reyes, suspeitos de serem integrantes do Guerreros Unidos. Os três homens dizem ter recebido os 43 estudantes no lixão de Cocula, a 22 km de Iguala, sendo que 15 deles já chegaram ao local mortos com sinais de asfixia.

Em seguida, mataram os outros. Os corpos foram empilhados e cobertos com pneus e lenha e molhados com gasolina e óleo diesel para depois serem incendiados.

Os presos dizem que as cinzas resultantes da queima foram colocadas em bolsas e atiradas no rio San Juan, que passa pela cidade. Segundo os detidos, todo o processo foi da 0h às 15h de 27 de setembro, logo após o ataque.

Segundo o órgão, os detidos não disseram quem trouxe os estudantes e quem era o mandante da emboscada. Para a Procuradoria-Geral, o mandante do ataque foi o prefeito de Iguala, Jose Luis Abarca, preso na quarta (5).

A intenção seria evitar que os estudantes atrapalhassem um evento em que sua mulher, María de los Ángeles Pineda, seria lançada como candidata a sucedê-lo e que é irmã de três chefes do cartel Guerreros Unidos. O casal já havia sido alvo de protestos dos estudantes em 2013 após a morte de um líder sindical de Iguala.

FAMILIARES

As informações sobre o depoimento foram dadas aos familiares por Murillo Karam nesta sexta. Eles também informaram que resgataram parte das cinzas e alguns ossos e dentes quebrados. O material será submetido a análise. Até saia o resultado, os estudantes continuarão sendo considerados desaparecidos pelo governo.

Em entrevista, os parentes disseram não acreditar na versão do procurador-geral e pediram que o material recolhido seja analisado por peritos independentes.

Para eles, o governo quer fazer com que eles acreditem que seus filhos estão mortos. "Sequer mostraram fotos dos nossos filhos. Enquanto não houver provas, nossos filhos estão vivos", disse Felipe de la Cruz, pai de um dos alunos.


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