Folha de S. Paulo


Polônia, 1ª a derrotar o comunismo, simboliza mudança no Leste Europeu

No dia 4 de abril de 1989, sete meses antes da queda do Muro de Berlim, os poloneses conseguiram algo inédito no então leste comunista: um acordo para eleições livres ao Parlamento, realizadas em junho daquele ano.

Foi o primeiro passo oficial para a iminente derrocada dos regimes controlados pelos soviéticos. A oposição venceu as eleições, e o comunismo começou a ruir.

Vinte e cinco anos depois, a Polônia é a sexta economia do continente e acaba de ver o seu ex-primeiro-ministro Donald Tusk ser eleito presidente do Conselho Europeu.

Editoria de arte/Folhapress

O Palácio da Cultura e da Ciência de Varsóvia, arranha-céu construído pelos soviéticos no centro da cidade, é um ser estranho em meio à transformação capitalista, apesar de lembranças daquele período, como prédios residenciais que ainda se destacam.

A Polônia se fortaleceu sobretudo porque entrou de vez no mercado da indústria internacional, atraiu investimento de multinacionais e tem a vizinha Alemanha como maior parceira comercial.

Seu PIB per capita mais que dobrou desde 1989 e já é de 65% do de países desenvolvidos da Europa. Prevê-se que atinja 80% até 2030.

"Há 25 anos, nenhum de nós ousou sonhar que as mudanças seriam tão profundas e positivas. A Polônia hoje é uma sociedade democrática, aberta, que deu um grande salto nas estruturas da União Europeia", disse à Folha o jornalista Adam Michnik, 68, um dos principais líderes da oposição na época.

Preso durante a ditadura comunista, Michnik integrou a famosa "round table", mesa-redonda entre governo e oposição realizada entre fevereiro e abril de 1989 para discutir uma saída para a pressão que crescia nas ruas.

PROFUNDO

"O colapso mais profundo do comunismo foi na Polônia. O regime foi um desastre para a nossa sociedade", ressalta ele, hoje editor da "Gazeta Wyborcza", um dos principais jornais locais. Mas nem todo o balanço é positivo.

Para Anna Materska-Sosnowska, professora de ciência política da Universidade de Varsóvia, em troca do desenvolvimento, o seu país experimentou algo não tão visível até 1989: a desigualdade social.

"A transformação econômica resultou numa estratificação social e aparente diferença nos padrões de vida, o que trouxe dificuldades", explica a professora.

A Polônia deu um passo decisivo em 2004, quando se tornou membro da União Europeia. De lá para cá, recebeu € 40 bilhões em investimentos do bloco, com foco na infraestrutura, recuperando-se dos efeitos negativos das reformas dos anos 90. Esperam-se ainda mais € 106 bilhões até 2020.

MIL ANOS

"A entrada na União Europeia deve ser considerada um dos mais importantes eventos em mais de mil anos de história da Polônia", afirma Grzegorz Gorzelak, professor de economia da Universidade de Varsóvia.

Em 2004, o desemprego bateu o recorde de 20%. Hoje está entre 8,5% e 9,5% –o mais recente índice registrou 8,7%, abaixo da média da UE.

A economia tem crescido próximo a 4% ao ano. A Polônia foi o único país do bloco a não entrar em recessão na crise de 2008 e 2009.

Diante desse cenário, a população resiste a apoiar a entrada na zona do euro. Prefere, por enquanto, manter a moeda local, o zloty, a arriscar fazer parte de uma área em constante crise.


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