Folha de S. Paulo


Indicadores ainda mostram uma Alemanha 'dividida'

A Alemanha vai celebrar, no próximo fim de semana, os 25 anos da queda do Muro de Berlim. Protagonista no cenário europeu, o país ainda está dividido economicamente entre os lados que simbolizaram a Guerra Fria.

Vídeo: Veja curiosidades sobre a queda do Muro

A lição de casa não acabou para a nação governada pela chanceler Angela Merkel, apesar dos avanços significativos desde a reunificação alemã, em 1990, um ano após o fim do muro.

Editoria de arte/Folhapress

Quem visita a capital da Alemanha hoje em dia vê apenas poucos pedaços do que simbolizou a separação entre ocidentais e orientais.

E talvez não perceba que um outro muro, este "invisível", mantém diferenças.

A região ocidental, na época sob controle das potências capitalistas, mantém-se em um patamar econômico superior à oriental, que seguia as ordens da União Soviética comunista.

€ 2 trilhões

Estima-se que aproximadamente € 2 trilhões (R$ 6,3 trilhões) tenham sido investidos no desenvolvimento do leste alemão nos últimos 20 anos para igualar as condições.

Deu resultado. O PIB per capita dobrou na região neste período, mas está 33% atrás do ocidental.

O índice de desemprego no leste do país, por exemplo, é de 10,3%, contra 6% na porção ocidental.

O governo alemão, em relatório divulgado em setembro passado, considerou o patamar "muito alto", mas comemorou o menor número de desempregados na região na história –algo em torno de 870 mil.

Um dos principais fatores para a falta de empregos é a ausência de grandes empresas –as de médio e de pequeno porte predominam na área, que é mais marcada pela agricultura do que pela industrialização.

Apenas 10% das grandes indústrias da Alemanha, que empregam mais de 500 pessoas, estão localizados na parte leste do país.

MIGRAÇÃO

A perda de população foi um dos maiores danos causados à região após a queda do Muro de Berlim, no dia 9 de novembro de 1989.

Estima-se que entre 1,5 milhão e 2 milhões de pessoas tenham migrado desde então para o lado mais desenvolvido do país, a maioria jovens em busca de trabalho.

Resultado: o leste envelheceu, e a expectativa é que um terço de seus moradores tenha mais de 65 anos até 2030.

O governo alemão diz, porém, que houve uma estagnação dessa fuga e faz um balanço positivo dos números.

"Tínhamos um desafio sem precedentes: a reconstrução do leste. Hoje, 25 anos depois, temos um saldo positivo desenhado, com a convergência dos padrões de vida", afirma Iris Gleicke, secretária de Estado do Ministério de Economia e Energia.

"No entanto, em áreas importantes, como economia e mercado de trabalho, a distância ainda é considerável", admite.

Diante da disparidade ainda existente, alguns jovens criados em Berlim Oriental nos anos 1980 decidiram montar o grupo "Perspectiva 3", para discutir os desafios da terceira e última geração da Alemanha comunista.

"Tenho muitos amigos que cresceram do lado ocidental. Basicamente, nada mudou para eles. Mas, para minha geração, que veio do outro lado, há um trauma, houve grande mudança", diz Marie Landsberg, 31.

"Nosso contexto é diferente daquele da mesma geração que nasceu do outro lado, que, em sua maioria, teve pais com boa estrutura econômica. A competição ainda é desigual", ressalta.

É equivocado, porém, afirmar que todo legado do governo comunista é negativo.

Uma das coisas que mais orgulham os alemães que viveram sob o regime é que grande parte das mulheres trabalhava, ao contrário das dos vizinhos ocidentais.

Com isso, a qualidade da assistência infantil para filhos, reconhecida na época da reunificação, permanece até hoje como um dos pontos positivos do leste, assim como a vacinação das crianças.

Pesquisa recente apontou que 75% dos cidadãos da Alemanha Oriental estão felizes com a vida 25 anos depois.

Já menos da metade (48%) dos que viveram do outro lado diz que a reunificação trouxe mais benefícios que problemas.


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