Folha de S. Paulo


Itamaraty vai investigar contas do consulado em Mendoza

O Itamaraty enviou missão administrativa à Argentina para investigar possíveis irregularidades nas contas do consulado de Mendoza, no período entre 2010 e 2013.

A decisão foi tomada após a embaixada brasileira em Buenos Aires ter sido notificada pelo Banco Central do país vizinho sobre movimentação financeira atípica.

O posto relatou o fato ao Ministério das Relações Exteriores em telegrama enviado na última quarta-feira (15).

A investigação recai, segundo a Folha apurou, sobre suposta atividade de compra de dólar na cotação oficial e venda no mercado paralelo –no oficial, vale em torno de 8,40 pesos; no paralelo, a venda é por cerca de 15 pesos. A Folha apurou também que o montante investigado está na casa das centenas de milhares de dólares.

Outras missões estrangeiras também teriam sido investigadas pelo BC.

A diferença no câmbio cresceu após o governo de Cristina Kirchner passar a restringir compra de dólares oficiais, fixando, por exemplo, que só argentinos que ganhassem mais de 8.800 pesos (R$ 2.552) pudessem comprar a moeda americana.

O dólar é a moeda referência para as representações no exterior e para o pagamento de diplomatas. Pela lei argentina, diplomatas podem manter conta em dólar no país.
Indagado sobre a suspeita, o Itamaraty informou que a pasta "procurará obter do lado argentino mais informações sobre o assunto".

Segundo a Folha apurou, houve um primeiro encontro entre brasileiros e autoridades argentinas na sede do Banco Central, na última terça-feira (14).

"Assim que tomou conhecimento, o ministro [Luiz Alberto] Figueiredo determinou o envio imediato de uma missão administrativa para examinar as contas do consulado em Mendoza", disse o ministério, por meio de assessoria de imprensa.

A pasta ponderou que "no momento, nenhum funcionário é objeto de investigação. Primeiro será necessário examinar as contas do consulado e verificar se há irregularidades", disse o Itamaraty.

A análise deve ser feita sobre o período em que o diplomata Sérgio Couri chefiava o posto em Mendoza. Couri foi nomeado como cônsul-geral em novembro de 2010. Em fevereiro deste ano, seu nome foi encaminhado pelo Itamaraty ao Senado Federal para a vaga de embaixador na ilha de Santa Lúcia, no Caribe.

A indicação foi aprovada pelos congressistas três meses depois. O Itamaraty afirmou que não há relação entre a mudança de posto e a investigação do Banco Central. "Quando [Couri]foi removido, não havia qualquer informação sobre eventuais problemas no Consulado."

OUTRO LADO

Procurado pela Folha, o ex-cônsul de Mendoza e atual embaixador em Santa Lúcia, Sérgio Couri, afirmou estar surpreso com a apuração do Banco Central argentino. "Fiquei sabendo por você", afirmou em e-mail à reportagem.

O diplomata negou ainda quaisquer irregularidades nas transações do consulado em Mendoza.

"A informação está equivocada quanto aos procedimentos de compra e venda de moeda, que sempre foram realizados conforme os modos legais e convencionais", afirmou.

"Pode ter havido algum mal-entendido, posteriormente à minha saída do posto", acrescentou Couri.

A nomeação de sua sucessora no posto em Mendoza ocorreu em novembro do ano passado.


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