Folha de S. Paulo


Venezuela importa petróleo pela primeira vez

Dona das maiores reservas petrolíferas do mundo, a Venezuela está importando petróleo pela primeira vez na história. O superpetroleiro Carabobo está a caminho do litoral venezuelano após ser carregado com 2 milhões de barris de petróleo na Argélia, segundo agências especializadas.

O carregamento, vendido pela estatal argelina Sonatrach, foi embarcado nos dias 10 e 11 de outubro e deve chegar no dia 26.

A notícia da aquisição havia sido antecipada no mês passado pela agência Platts, referência mundial no setor. Não se trata de compra isolada, mas do início de um fluxo de exportação de petróleo argelino para a estatal venezuelana PDVSA, diz a Platts.

O objetivo é usar o petróleo argelino, de tipo leve, para diluir o óleo bruto pesado do Orinoco, maior região produtora do Venezuela.

A PDVSA precisa refinar o petróleo que produz antes de exportá-lo. Caso contrário, perderia clientes, já que o custo de refino é elevado.

A China, hoje o maior comprador de petróleo do mundo, prefere importar tipos de óleo bastante refinados.

Durante décadas, a Venezuela refinava o petróleo do Orinoco usando um tipo de óleo bruto mais leve extraído de outros poços nacionais.

Mas a produção deste tipo diminuiu por causa do sucateamento da infraestrutura, obrigando a Venezuela a importar dos EUA um diluente conhecido como nafta.

"O óleo argelino é de alta qualidade e substitui bem o Nafta, mas custa caro", diz à Folha José Toro Hardy, economista que trabalhou na PDVSA até pedir demissão, em 2009, por divergências com o governo.

Ecoando opinião quase unânime de especialistas, Toro Hardy afirma que o problema é o declínio da capacidade produtiva do país.

Em 1997, a Venezuela produzia 3,7 milhões de barris por dia, contra atuais 2,3 milhões barris, segundo especialistas. A queda é atribuída a um misto de fatores, que incluem aparelhamento da PDVSA e fuga das grandes petroleiras ocidentais, que detêm a melhor expertise, após as expropriações ordenadas por Chávez e seu sucessor, Nicolás Maduro.

Na semana passada, o tribunal para litígios comerciais do Banco Mundial decretou que a Venezuela deve US$ 1,6 bilhão à americana ExxonMobil.

O problema se agrava por causa da queda do preço do barril, em especial o do tipo venezuelano, que vem sendo cotado a menos de US$ 85 nas últimas semanas –uma queda de US$ 16 desde 2013.

Analistas dizem que a desvalorização tem duas causas. A primeira é a queda da demanda global por causa da desaceleração econômica.

A segunda é a política de preço baixo orquestrada pela Arábia Saudita, maior exportador mundial de petróleo e rival da Venezuela na Opep, cartel dos produtores.

Aliados do Ocidente, os sauditas usam a estratégia de aumentar a produção para reduzir preços. Já Caracas, com apoio de Rússia e Irã, defende reduzir a oferta para manter preços altos. Maduro prometeu nesta quarta que o "preço voltará a subir."


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