Folha de S. Paulo


Turquia bombardeia posições de partido curdo no sudeste do país

Aviões turcos bombardearam, na segunda-feira (13), bases do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), no sudeste do país, pela primeira vez desde o início do processo de paz entre a Turquia e os curdos em 2012.

O jornal turco "Hurriyet" e meios de comunicação simpáticos ao PKK relataram os ataques.

O "Hurriyet" disse que os ataques aéreos causaram "grandes danos" ao PKK.

"Aviões F-16 e F-4 que descolaram de bases em Diyarbakir e Malatya (sudeste) lançaram bombas sobre alvos do PKK depois que o grupo curdo atacou uma base militar turca em Daglica", disse o jornal.

Ainda segundo o "Hurriyet", o PKK atacou o posto por três dias com metralhadoras e foguetes.

Os militares turcos disseram "ter abrido fogo em retaliação nas formas mais fortes", mas não mencionaram ataques aéreos.

A operação aconteceu poucos dias depois das manifestações da comunidade curda na Turquia que terminaram em violência e deixaram 34 mortos, centenas de feridos e muitos danos.

Os manifestantes protestavam contra a recusa do governo islamita conservador a intervir militarmente para salvar a cidade curda síria de Kobani, que fica na fronteira com a Turquia e está cercada há semanas pelo Estado Islâmico (EI).

PROCESSO DE PAZ

Em 2012, o governo turco iniciou negociações com o líder detido do PKK, Abdullah Öcalan, para tentar acabar com uma rebelião que provocou quase 40.000 mortes desde seu início, em 1984.

Os rebeldes curdos decretaram um cessar-fogo unilateral em março de 2013 e começaram a retirar parte de seus combatentes da Turquia, que seguiram para o monte Kandil, ao norte do território iraquiano.

Mas há um ano interromperam o deslocamento, pois consideraram que o governo de Ancara não cumpriu as promessas de reformas a favor dos curdos no país, uma minoria de 15 milhões de pessoas.

A situação piorou diante da ameaça do EI aos curdos sírios em Kobani.

Öcalan advertiu que a queda de Kobani para o EI representaria o fim do processo de paz e ameaçou retomar a insurgência curda na Turquia se o governo não agir até esta quarta (15).

O presidente turco Recep Tayyip Erdogan criticou as manifestações curdas, mas prometeu fazer o possível para prosseguir com o diálogo.

Ancara recusou-se a juntar-se à coalizão militar liderada pelos Estados Unidos contra o Estado Islâmico, a menos que o ditador da Síria, Bashar al-Assad, também seja confrontado. Autoridades norte-americanas expressaram frustração com a recusa de Erdogan.

Na segunda-feira, a Turquia negou que tenha autorizado os EUA a decolar desde suas bases aéreas.

O processo de paz com os curdos é uma das principais iniciativas do presidente Erdogan nos seus dez anos no poder.

SÍRIA

A Turquia já tem cerca de 1,2 milhões de refugiados da guerra civil de três anos da Síria, incluindo 200 mil curdos que fugiram da região de Kobani nas últimas semanas.

Os combatentes do YPG, principal milícia curda síria, aliados do PKK, estão exigindo que a Turquia permita passagem de curdos turcos pela fronteira para ajudar na luta em Kobani.

"Há confrontos ferozes, sem recuo ou avanço [do Estado Islâmico]. Ontem, [o EI] detonou três carros-bomba no leste Kobani", disse Ocalan Iso, vice-chefe do Conselho de Defesa de Kobani.

Na cidade turca de Suruc, a 10 quilômetros da fronteira síria, um funeral de quatro lutadoras do YPG foi realizado em meio à gritos contra Erdogan.

Obama vai discutir uma estratégia para combater Estado islâmico nesta terça-feira com líderes militares de 20 países, incluindo a Turquia, os países árabes e aliados ocidentais, diante da pressão para deter o avanço do EI.


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