Folha de S. Paulo


Cachorro de espanhola com ebola é sacrificado; dois ativistas ficam feridos

Cerca de 50 manifestantes se reuniram nesta quarta-feira (8) em frente ao edifício onde mora a auxiliar de enfermagem infectada por ebola em Alcorcón, na Espanha, para protestar contra o sacrifício de seu cachorro Excalibur, da raça American Stafford.

O grupo tentou bloquear o portão, e dois ativistas ficaram feridos ao tentar impedir a passagem do furgão que levava o corpo do cão, que foi incinerado após ser sacrificado sob sedação dentro da residência de Teresa Romero Ramos, 44. Ela foi a primeira pessoa a se contaminar com o vírus fora da África.

A auxiliar de enfermagem tratou de dois missionários espanhóis que se contaminaram com o vírus em Serra Leoa e Libéria e morreram enquanto eram tratados no Hospital Carlos 3º, de Madri.

Efe
Javier Limón, marido da espanhola infectada, com seu cachorro Excalibur
Javier Limón, marido da espanhola infectada, com seu cachorro Excalibur

Na terça-feira (7), o governo de Madrid ordenou o sacrifício do cachorro por entender que ele representava "um possível risco de transmissão da doença ao homem", já que vivia em contato próximo com a paciente.

Um juiz autorizou nesta quarta as autoridades de saúde a entrarem no prédio e levarem o cachorro para o sacrifício.

Em nota, a Secretaria de Saúde de Madri explicou que, segundo a informação científica disponível, "existem dados que confirmam a descobertas de cachorros com anticorpos positivos do vírus ebola", por isso, esses animais "podem sofrer um processo de infecção, mesmo que não apresentem sintomas".

O marido da auxiliar, Javier Limón, que está internado em isolamento pela suspeita de estar contaminado, gravou um vídeo pedindo que não sacrificassem o cachorro.

Uma petição para que Excalibur não fosse morto publicada na internet na terça conseguiu quase 300 mil assinaturas em poucas horas.

Uma das reivindicações era que o cão fosse colocado em quarentena ou isolamento, para que fosse comprovado o contágio pelo vírus antes da realização do sacrifício.

Susana Vera/Reuters
Pessoas tentam impedir entrada de veículo para levar cachorro ao sacrifício
Pessoas tentam impedir entrada de veículo para levar cachorro ao sacrifício

FORMA DE CONTAMINAÇÃO

Seis pessoas, incluindo a auxiliar e seu marido, estão internadas em isolamento, segundo o "El País".

Ao jornal espanhol, Ramos disse acreditar que pode ter se contaminado no momento em que tirou o traje de proteção depois de sair do quarto em que estava internado o padre Manuel García Viejo.

O médico German Ramirez, do Carlos 3º, afirmou que a auxiliar de enfermagem se lembra de ter tocado o rosto com uma luva. "Parece que encontramos a origem" da infecção de Ramos, disse, fazendo a ressalva de que a investigação do caso ainda não está completa.

Duas enfermeiras que também trataram dos missionários espanhóis foram internadas com sintomas de febre. Além disso, uma terceira enfermeira cujo segundo teste deu negativo para o vírus foi posta em quarentena.

Também está internado um engenheiro espanhol que trabalhava na Nigéria. Ele fez seu segundo exame de ebola nesta quarta e, como no primeiro, o resultado deu negativo.

Além disso, são mantidas em vigilância 22 pessoas com quem a assitente de enfermagem teve contato —familiares e a equipe médica que a tratou no Hospital de Alcorcón — e 30 profissionais do Carlos 3º, onde foram tratados os dois missionários e para onde ela foi transferida na noite de terça-feira.

Ramos havia saído em férias em Madri depois da morte de Viejo, em 25 de setembro, mas só começou a se sentir mal cinco dias depois. Segundo seu sindicato, ela pediu três vezes para ser submetida a testes antes de a infecção ser finalmente confirmada em 6 de outubro.


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