Enquanto boa parte dos países do mundo se mobilizou para ajudar no combate ao ebola na África, o Brasil doou só R$ 1 milhão (US$ 400 mil) para as nações afetadas –e o montante ainda não tinha sido desembolsado até esta quinta-feira (2).
Como comparação, a Índia doou US$ 12 milhões; a África do Sul, US$ 3 milhões; a China, US$ 36 milhões; e os Estados Unidos, liderando os esforços, já desembolsaram US$ 175 milhões e prometeram mais US$ 750 milhões. O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, anunciou em discurso na Assembleia Geral da ONU que o país vai doar US$ 5 milhões.
"O Brasil é um dos países com mais embaixadas na África e grande política de aproximação com o continente, este é um momento importantíssimo para ajudar esses países", diz Susana de Deus, diretora geral da ONG Médicos sem Fronteiras no Brasil. "O Brasil poderia mostrar sua solidariedade de forma mais substancial, à altura do país."
Além de doar R$ 1 milhão para a Organização Mundial de Saúde (OMS) direcionar aos países afetados, ainda não desembolsado, o governo brasileiro enviou 14 kits médicos para Libéria, Serra Leoa e Guiné. Cada kit, composto de medicamentos e insumos para primeiros socorros, é capaz de atender 500 pessoas por três meses.
A Folha apurou que o Grupo Especial Interministerial (GEI), que discute a doença no Brasil, constatou que a ajuda brasileira é inferior ao que seria razoável.
O grupo pediu um "crédito extraordinário" para ajudar os países afetados e aguarda resposta.
Parte do dinheiro pedido pelo GEI seria usado no transporte de alimentos para a África. A presidente Dilma Rousseff aprovou a doação de 32 mil toneladas de arroz (cerca de R$ 23 milhões) e 23 mil toneladas de feijão (R$ 34 milhões) para populações afetadas por cinco crises humanitárias: a do ebola e os conflitos na Síria, em Gaza, no Iraque e no Sudão do Sul. Mas não há dinheiro para transportar esses alimentos.
Rondon Vellozo - 15.ago.2014/Ministério da Saúde | ||
Funcionários carregam kits médicos do Brasil contra o ebola para serem enviados à África |
MORTES
Até 28 de setembro, segundo a OMS, a epidemia de ebola já tinha contaminado 7.157 pessoas e matado 3.330, principalmente na Libéria, Serra Leoa e Guiné, com alguns casos registrados no Senegal e Nigéria.
De acordo com Susana, do Médicos sem Fronteiras, a situação continua fora de controle, porque não há pessoas nem recursos suficientes para interromper a cadeia de transmissão.
Alguns países contribuíram com recursos humanos: Cuba mandou 165 médicos e enfermeiros; os EUA enviaram 100 especialistas e 3 mil soldados para ajudar na construção de hospitais.
Segundo o Ministério da Saúde, o governo estuda aumentar as doações, mas não planeja enviar médicos ou militares, porque a OMS não os requisitou.
A OMS estima que seja necessário US$ 1 bilhão para que a epidemia não se transforme em "catástrofe". Segundo especialistas, se os países tivessem colaborado antes, talvez a epidemia não tivesse saído do controle.
Editoria de Arte/Folhapress | ||