Folha de S. Paulo


Afluxo de mendigos muda a paisagem social da Suécia

Conhecida por ser um dos países mais igualitários do mundo, a Suécia teve sua paisagem social alterada nos últimos anos pelo crescimento no número de mendigos.

O frio não impede que pessoas passem dia e noite nas ruas implorando por ajuda.

"É vergonhoso mendigar, mas não temos alternativa. Se conseguíssemos emprego, trabalharíamos como pessoas normais", diz Andreea (nome fictício), da Romênia, que mora com o marido em um carro abandonado.

O avanço do fenômeno está relacionado ao livre fluxo de pessoas na UE e ao ingresso de novos países-membros.

Segundo autoridades suecas, a maioria das pessoas que mendigam vem de países do Leste Europeu, como Romênia e Bulgária, que entraram no bloco em 2007.

A mendicância se tornou um tema controverso no país. "Como membros da UE, temos a responsabilidade de garantir que ciganos da Romênia também tenham a possibilidade de se integrar à sociedade. Também já tivemos ciganos suecos em situação vulnerável", disse Jens Orback, do partido Social Democrata, em julho, em debate sobre o tema.

A legenda de Orback venceu as eleições parlamentares do último dia 14, tirando do poder a Aliança pela Suécia, de centro-direita.

Richard Jomshof, do nacionalista Democratas Suecos, discorda: "Somos primeiramente responsáveis por nossos próprios cidadãos. Essas pessoas devem ser levadas de volta a seus países".

Em 2011, seu partido enviou ao Parlamento um projeto de lei para proibir a mendicância. No mesmo ano, a cidade de Sala implantou a proibição, mas foi impedida pelo governo local por incompatibilidade jurídica.

SEM EVIDÊNCIA

Para o partido, os mendigos são organizados por máfias, mas as autoridades suecas desmentem a hipótese.

"É uma afirmação recorrente, mas nós falamos com praticamente todas as instituições que têm contato com os mendigos e não há nenhuma evidência de que essa informação proceda", diz Michael Anefur, membro do partido Democrata Cristão e coordenador da comissão sobre moradores sem teto.

Os que se opõem à proibição enfatizam que ela não resolverá o problema da pobreza e que há uma responsabilidade conjunta dos países europeus pelo bem-estar de seus cidadãos: "Sou totalmente contra. E acho que devemos nos colocar no lugar do outro. E se fosse você? Deveríamos proibi-lo e colocá-lo na cadeia?" perguntou Orback a Jomshof.

Os defensores da proibição apontam como exemplo países vizinhos, como Noruega e Dinamarca.

Na Noruega, as municipalidades foram autorizadas a proibir a mendicância. Na Dinamarca, mendigar é ilegal, e instituições são proibidas de ajudar mendigos que não tenham o número pessoal dinamarquês.

Na Suécia, o único partido oficialmente a favor da proibição é o Democratas Suecos, mas membros de outras siglas também se mostram favoráveis à ideia.

Uma enquete realizada em março deste ano revelou que a maioria dos suecos é a favor da proibição. Mil pessoas, entre 18 e 79 anos, tiveram de responder à pergunta: "Você acha que é uma sugestão boa ou ruim proibir a mendicância?". Para 56% dos entrevistados, a sugestão é boa; 23% deles responderam que essa é uma má ideia.


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