Folha de S. Paulo


Oito anos depois, republicanos podem liderar Senado e Câmara nos EUA

Em 2006, quando os republicanos perderam de uma só vez as maiorias na Câmara e no Senado americano, o resultado das urnas foi visto mais como a expressão da insatisfação popular com a guerra do Iraque do que, essencialmente, uma conquista da oposição.

Oito anos e quatro eleições legislativas depois, os democratas se veem em situação semelhante à dos governistas da era Bush. Diante de um impopular Barack Obama –54% de desaprovação contra 56% do antecessor, na mesma época–, a oposição tem uma chance real de conquistar a maioria no Senado.

Seria a primeira vez, em quase uma década, de controle republicano nas duas Casas.

A diferença é que, desta vez, a ofensiva no Oriente Médio, contra extremistas do Estado Islâmico (EI), tem aprovação de dois terços da população americana.

Com apoio interno e a pressão da oposição para que agisse, Obama anunciou, na última semana, que vai bombardear os radicais onde eles estiverem. Os líderes republicanos no Capitólio parecem ter entendido o peso do assunto antes das eleições e demonstraram disposição para cooperar com Obama.

"Política externa geralmente não é um tema importante na disputa do Congresso, mas é o assunto que está tendo mais cobertura da mídia agora e que tem a ver com uma possível ameaça aos EUA", afirma Patrick Basham, diretor do Democracy Institute, de Washington.

Nas eleições de 4 de novembro, estarão em jogo 36 dos 100 assentos do Senado ""destes, 21 pertencem hoje a democratas. O partido governista possui 55 cadeiras.

PREVISÕES

Em previsões recentes do "Washington Post" e do "New York Times", os republicanos aparecem com, respectivamente, 50% e 53% de chances de conquistar o Senado.

Na disputa de novembro, entram também todos os 435 assentos da Câmara –onde a larga vantagem dos republicanos torna pouco provável uma reviravolta no controle da casa– e os governos de 36 Estados –22 deles sob o comando de republicanos hoje.

A situação é difícil para os democratas nos Estados em que têm cadeira no Senado, mas onde Obama perdeu nas eleições de 2012, como Arkansas, Carolina do Norte, Louisiana e Virgínia Ocidental.

Para Basham, a única forma de os democratas tentarem reverter esse quadro é tirar o foco de Obama. "Devem tentar se descolar ao máximo do presidente, destacar suas próprias conquistas políticas e falar sobre temas que favorecem os democratas, como aumento do salário mínimo."

A opinião é compartilhada pelo analista conservador Michael Barone, do American Enterprise Institute. "O voto para o Senado está diretamente ligado à aprovação do presidente. Para tentar segurar a maioria, os democratas devem focar sua campanha em temas locais."

Já os republicanos precisam explorar problemas com o Obamacare (programa de saúde do governo) e usar o argumento de que "o país e o mundo estão fora de controle sob Obama", diz Barone.

ECONOMIA

Apesar de a economia ter dado sinais de recuperação no último trimestre, quando cresceu 4,2%, e de o desemprego ter caído nos últimos meses, especialistas consultados pela Folha acreditam que o tema ainda será o de maior peso nos votos.

"As eleições do meio do mandato são geralmente ditadas por questões domésticas e também uma reação genérica contra o partido no poder", diz Kyle Kondik, editor do boletim de análise política Sabato's Crystal Ball.

Para Basham, "muitas pessoas não sentem que as coisas melhoraram". "E as pessoas votam com o que sentem e não com os números que aparecem na TV", afirma.

Outro tema que poderia ser polêmico foi deixado para depois das eleições: Obama adiou a decisão de fazer avançar, por meio de decretos, a reforma da imigração.

Editoria de Arte/Folhapress

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